14 de dez. de 2007

Nascida no dia do Especial do Roberto Carlos

29 de dezembro lá é data pra alguém fazer aniversário? Pois eu faço. Há 34 anos. Pô, três dias a mais e eu seria de 74 e não de 73. O que, depois dos 30, todo mundo sabe que é lucro. Mas quando eu era criança era bem mais complicado. Nunca tive festa na escola. Meus amigos sempre estavam viajando. Sorte que eu tenho 28 primos (só por parte de mãe) e, assim, minhas festas atingiam um quórum aceitável. Drama mesmo era o presente: um só, de Natal e aniversário. Achou sacanagem? Então olha essa outra.
Eu não podia me queixar das minhas festas de aniversário porque elas eram, de longe, as mais animadas da minha família. Vinham todos os tios e primos, até os que moravam em outras cidades. Teve um ano que meu pai colocou até barril de chopp para os adultos, mas as crianças podiam beber a espuminha. Politicamente incorreto no último mas divertido, vai... Tinha “foguetório” em minha homenagem e eu lembro que a gente tirava a mesa de centro da frente do sofá e o tapetão virava pista de dança (saiba mais sobre esta questão no post Infância Pobre). Meus tios dançavam até o dia amanhecer. Todo ano era assim. Até que, lá pelos 8 anos, eu percebi que aquela festa toda não era exatamente para mim.
Era Reveillon. Eles me enganavam.
Isso compromete a vida de uma pessoa. Eu sou rebelde porque o mundo quis assim.

7 de dez. de 2007

Ser ou não ser?

Uma das maiores incógnitas dos tempos modernos, o equivalente ao terceiro segredo de Fátima, é saber se você está ou não está namorando. Por maior que seja o envolvimento, as pessoas têm o dom de deixar tudo tão vago que simplesmente não dá para saber. Já ouvi uns absurdos do tipo: sair mais de 3 vezes com a mesma pessoa configura namoro. Como se fosse matemática e não química. É um medo de se expor, de dar o primeiro passo, de parecer interessado demais, sei lá o que passa. Nem quando todas as evidências estão ali expostas as pessoas têm certeza.
O cúmulo aconteceu com uma amiga que reuniu uma galera em casa para um jantar. O famoso pretexto para apresentar o bofe para a galera. Ela já saía há meses com esse cara mas ainda não se atrevia a chamar de namorado. Chegando na casa dela vejo não apenas o bofe mas que ele trouxe alguns amigos de infância para o jantar. E que todos já eram íntimos da minha amiga.
Ele servia as pessoas, simpático e prestativo. Depois do jantar ficou contando histórias engraçadas dele e dos amigos para todos. Minha amiga confortavelmente sentada no colo dele, que era todo carinhos.
Nós duas fomos pegar alguma coisa na cozinha e eu comentei: Aeeeee, que bonitinha namorando. E ela, tensa: Ah, não sei se é namoro... Foi então que eu soltei a pérola:
- Gata, o cara fica cercado de ajudantes, você senta no colinho... Ou é namorado ou é Papai Noel.

25 de nov. de 2007

Minuto de sabedoria

Nenhum terapeuta, astrólogo, cigana, padre, pastor evangélico, conselheiro sentimental, amigo bem-intencionado, taróloga, I Ching, periquita da sorte, biscoitinho chinês, mãe, pai, irmão, primo, psiquiatra, monge budista, trecho da Bíblia, câmera da verdade do Clodovil, bispa da Renascer, colega de firma, professor, taxista bom de papo, garçon gente boa, diarista, escritor de auto-ajuda, porteiro de prédio, papo cabeça na fila do banheiro da balada ou médium vidente.
Ninguém nunca me disse nada tão otimista, genial, original e definitivo quanto minha querida amiga Marcia. Há alguns meses, me ouvindo reclamar da vida, ela me interrompe com a seguinte pérola que vou guardar e usar forever:

- Ah, Flavia. Pára com isso. Você não tem um quilo a perder.

Além da gargalhada, não dei mais nenhum pio depois dessa.

21 de nov. de 2007

Para que estes dentes tão brancos?

Ninguém precisa ser maníaca por TV como eu para constatar que tem alguma coisa estranha acontecendo com os dentes das pessoas. Ou está todo mundo escovando com Omo Tripla Ação ou indo ao mesmo dentista. Provavelmente o Dr. Rabanus do Extreme Makeover.
Dente é uma coisa muito importante nessa vida e eu cuido muito bem deste colar de pérolas que Deus me deu. Mas o que leva uma pessoa a ter dentes cobertos por uma camada de Error-Ex é o que eu me pergunto? Além de artificial é esquisito demais. Alguém avisa?
Esse fenômeno me deixa tão intrigada quanto eu ficava quando olhava para os dentes do Ken, namorado da minha Barbie: aquela coisa branca e inteiriça. É igualzinho. Essa galera está usando uma espécie de encaixe branco-demais-que-chega-a-ofuscar. A impressão que dá é que o espaço entre os dentes é esculpido e por ali não passa nem fio dental extra-fino. E a aflição é ainda maior quando você vê estes dentes em close, na boca de uma pessoa como o Stênio Garcia (sim, o Pedro ou o Bino de Carga Pesada) cuja cútis e o estado geral da pessoa não condiz mais com tanta brancura. Nem a Xuxa, que ainda tem dentes de leite, consegue ter dentes tão brancos.
Sem falar que, do jeito que a coisa vai, quando alguém morrer em algum acidente grave (toc, toc, toc, já bati na madeira) e precisar ser reconhecido pela arcada dentária, todos os corpos vão parecer do Marcos Paulo ou do José Wilker. E isso pode matar uma fã desavisada do coração. Encontrem logo uma tonalidade aceitável para os dentes dos atores da Globo. Parece inútil mas olha o tamanho do problema.

30 de out. de 2007

O que vale é a intenção

De boas intenções, o inferno está cheio. Desde que comecei a fazer trabalho voluntário com um grupo de amigas, sou obrigada a concordar com essa máxima popular. Claro que vou omitir o nome das amigas, da entidade, das crianças nem vou falar de tudo o que deu certo. Até porque, gente que se gaba porque faz trabalho voluntário é péssimo. Pelo contrário, o que vou escrever seria cômico se não fosse trágico.
Posso garantir que somos do bem, organizamos tudo direitinho, mas todas (eu disse TODAS) as vezes que a gente saiu com essas crianças carentes para fazer programas culturais ou simplesmente divertidos, alguma coisa deu errado. Pode chamar de coincidência infeliz, de azar, mas aconteceu exatamente assim.
Na primeira vez, levamos um grupo para assistir a peça “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”. Eu, ignorante, não conhecia a história mas fui incumbida de fazer um bate-papo antes, explicando que a peça mostrava que todo tipo de amor vale à pena. Se as crianças ouviam atentas a minha explicação, imaginem como prestavam atenção na peça. O que eu não sabia é que, no final, o Gato não fica com a Andorinha. Pior: ele acaba sozinho, triste, indo embora no frio. E as crianças chorando e perguntando: por que ele não ficou com ela, tia? Não sei, mas olha só: alguém quer ir ao banheiro? Vamos logo para a van que a gente vai entregar um presente para cada um. Que engraçado, sobrou um presente. Não, não sobrou. Faltou uma criança. Sim, depois da peça com final infeliz nós ainda esquecemos uma criança no banheiro do Teatro. Voltamos correndo e nos deparamos com a menininha chorando. Horrível, mas passou.
Outra vez erramos na conta dos presentes para menos e uma criança ficou sem. E foi bem complicado explicar isso para ela.
Persistimos no erro das contas: na saída do Parque da Mônica, compramos aqueles balões de gás prateados para todos. Quando fomos pagar, vimos que eles eram muito mais caros do que a gente entendeu a moça falar. Pense numa criança carente devolvendo o primeiro balão de gás prateado da vida dela. Pois aconteceu.
Em outro passeio, levamos os pequenos ao cinema. Queríamos ver Homem Aranha mas, por causa da faixa etária, tivemos que mudar os planos e entramos num filme de animação em 3D, com aqueles óculos. Bacana. Só que a sinopse do filme não dizia que se tratava da história de um garoto abandonado pelos pais. Nem que ele passava o filme inteiro tentando reencontrar a mãe que o abandonou na porta de um orfanato. Mãozinhas tensas apertavam as nossas mãos a cada cena que, nem de longe, parecia ficção. Na minha opinião, esta foi a pior de todas.
Mas ainda teve a última, no fim-de-semana passado. Tarde em que caiu o maior temporal aqui em São Paulo. Uma chuva muito forte, que durou uns 20 minutos, com rajadas de vento e tudo o que se tem direito. Sabe onde nós e as crianças estávamos nessa hora? No topo da Roda Gigante do PlayCenter.

18 de out. de 2007

Beleza Exotica

Quando a gente vê uma pessoa bonita, mas bonita mesmo, daquelas que dá vontade de cutucar alguém e mostrar “olha que linda”, essa pessoa é bonita e ponto. Acontece que não existem muitas pessoas bonitas e ponto por aí. Então alguém inventou subcategorias para as belezas que não são bonitas e ponto sejam aceitas do jeito que elas são. Eu sou freqüentemente incluída na subcategoria “beleza exótica”. Esse exótica é o jeito carinhoso e isento de definir uma beleza que necessita de muitas explicações para ser descrita. Uma beleza e dois pontos.
Meu nariz, por exemplo: ninguém diz na minha frente que eu tenho um nariz grande. Falam que eu tenho um “nariz marcante”. Ele não é pequeno, mas também não é enorme e caroçudo. Poderia dizer que é grego, mas isso é mais bacana de imaginar num homem, então esquece.
Outra que eu já ouvi: você tem um “rosto multiétnico”. Ele não é grego como o meu nariz, mas poderia ser árabe, espanhol se eu colocar uma rosa vermelha atrás da orelha, indiano com um bind entre as sobrancelhas. Também passo fácil por cubana e nordestina.
Meus cabelos também não fazem parte do padrão escorrido ou levemente-louro-e-ondulado-a-la-gisele. São castanhos escuros, cacheados e, quanto mais volumosos, mais eu gosto.
Sempre fui magra, mas não muito. Me olho todos os dias no espelho e sei que meu corpo já foi melhor, mas não muito. Nunca malhei de verdade e tudo parece estar no seu devido lugar, mas não muito.
Esta sou eu: uma mulher de 33 anos com uma beleza exótica, um nariz marcante, um rosto multiétnico, cabelos cacheados bem volumosos e magra, mas não muito.
É por isso que eu me dedico e continuo tentando escrever direitinho.

16 de out. de 2007

Sorria, você está sendo contado.

Eu sou uma negação para coisas tecnológicas. Parece frase da vovó mas é verdade.
Porém, com a ajuda de um amigo, desde o dia 10 de outubro o Bacanérrimo ganhou um desses programas que marca o número de visitantes/leitores no blog. Veja que esse treco deve ter um nome bem simples mas eu não sei nem consegui descrever com menos de 11 palavras. Ele tá lá embaixo, no canto esquerdo. E dando os devidos descontos para todas as vezes que eu ja entrei para ver se o numerinho aumentou, estou surpresa com a quantidade de visitas.
Ai, que pressão. Tenho que postar texto novo logo senão elas não voltam. Tô indo, gente.

8 de out. de 2007

Sobre corações partidos

Se você é dos meus e não veio para este mundo a passeio, mais cedo ou mais tarde vai ter seu coração partido em milhares de pedacinhos. No meu caso, mais cedo e mais tarde. No caso de muita gente que eu conheço, nunca. Nem pensar.
Sim, é possível viver sem que ninguém nunca te decepcione ou te machuque. Basta se preservar o tempo todo. Não deixar ninguém se aproximar muito, não demonstrar muito o quanto quer algo ou alguém, não viver muito. Pronto. Você vai ser aquele tipo que todo mundo comenta: Impressionante. Fulano tá sempre bem.
Agora a pergunta: em nome de que? Qual é a necessidade de viver se preservando, sem pagar para ver, sem viver coisas que não estavam no script?
Isso não é um manifesto pela dor-de-cotovelo e pela fossa. O-dei-o. É só uma maneira simples de ver as coisas quando você já passou por elas.
Antes viver uma grande decepção do que não viver nada. Mil vezes administar uma cara quebrada do que viver com o rostinho bonito intacto, imaginando como seria algo que você nunca moveu um músculo para ver acontecer.
E depois de se aventurar e viver algumas novelas mexicanas, acontece um fenômeno muito bacana. O coração se parte como um prato Duralex. Em milhares de pedacinhos sem ponta. É assustador, você fica catando os caquinhos por um tempo, mas sabe que eles não machucam mais e tira de letra. Ou quase.

28 de set. de 2007

Eu não joguei pedra na cruz

Eu não joguei pedra na cruz. Fiz coisa muito pior.
Foi no reveillon de 2004, na Praia do Forte, Bahia. Eu e um amigo alugamos uma casa tu-do e passamos uma semaninha para lá de agradável encarando a balada dos locais. No caso, os locais eram pescadores que tinham hábitos ingênuos como construir um presépio ecológico com menino Jesus, reis magos, pingüim de geladeira, jibóia e tartaruga (por causa do projeto TAMAR). Mas tinham outros hábitos bem menos ingênuos como dançar o arrocha. Arrocha, para quem não sabe, é uma dança que mais parece um ritual de acasalamento. E uma vez que você entra num lugar onde se dança arrocha, invariavelmente alguém vai te chamar e você vai participar do tal ritual. Mas antes que você pense que o que eu fiz de errado foi participar de um bacanal com pescadores, eu insisto: fiz coisa muuuito pior.
Voltando de uma dessas baladas / experiências antropológicas, ao raiar das 6 da matina, eis que eu percebo que a distância que a gente teria de andar até a nossa casa era muito maior do que a minha vontade de fazer xixi poderia suportar. Não tinha mais nenhum botequim aberto, era cedo demais para bater numa casa e pedir clemência. Até que a gente passa pelo presépio ecológico, lindamente ornado no meio de um abrigo feito de folhas de bananeira. Nesse momento eu esqueci de tudo o que a minha avó querida me ensinou sobre religiosidade e respeito à Santíssima Trindade. Nada era mais urgente do que fazer aquele xixi e o abrigo de folhas pareceu mais do que adequado. Avisei meu amigo pra ficar de olho e resolvi meu problema num ambiente protegido. Literalmente.
Então, quando as coisas começam a dar errado na minha vida, acho que sou a única pessoa na face da terra que faz o mea culpa dizendo: eu mijei no presépio.
Isso é muito pior do que jogar pedra na cruz. Porque na cruz, Jesus já tinha seus 33 anos. A mesma idade que eu e tempo suficiente para não ser uma unanimidade, ter seus desafetos. Agora quando ele era só um pequenino bebê indefeso e presenteado por ouro, incenso e mirra, nada justifica alguém chegar e fazer xixi em cima. Acho que só perco para o próprio Herodes. E isso explica tanta coisa.

24 de set. de 2007

Amigo é coisa

Juro que estou escrevendo este texto sem beber nenhum chopp paulista. Mas hoje eu vou falar sobre os meus considerados. Aquela gente fina, elegante e sincera que eu não preciso nem falar o nome, que eles estão carecas de saber. Aqueles que eu tenho o maior prazer de cuidar, de ouvir e de falar. E que tanto cuidam de mim. Quanto mais o tempo passa mais a gente se dá conta de que os amigos são as coisas mais geniais e importantes da vida. É por ter o apoio dos meus que eu sempre achei terapia desnecessária. Embora este possa ser o maior sintoma de que eu precise.
Ser amigo é muito mais legal do que ser parente. É só você reparar na reação das pessoas quando alguém diz que mora com parentes: a gente logo acha que a pessoa está numa fase difícil ou não chegou lá. Agora diga que mora com amigos e já dá para imaginar um lugarzinho cool, com baladas intermináveis e orgias. Mesmo que não seja nada disso.
Amizade é um exercício de humildade. É aceitar o seu amigo com todos os defeitos e diferenças que ele tem. É ter Respeito com “R” maiúsculo por ele. Parece uma responsa enorme, mas quando você é amigo mesmo, faz isso com as mãos nas costas. É o mínimo.
Amizade não é pesada nem obrigatória. Você procura seus amigos porque quer, porque é um prazer e é importante estar com eles. Se não procura, é porque não deu. Eles vão te mandar a merda quando você ligar meses depois, mas o papo continua exatamente de onde parou. Amigo não fica cobrando a sua amizade como um parente cobraria um empréstimo.
Ninguém é besta de achar que vai ter mesmo um milhão de amigos como diz o Rei, nem tem 1.500 como diz o Orkut. Então, meu caro, trate de identificar logo os seus poucos e bons amigos e cuide muito bem deles. Erga um brinde e considere para caralho.

Frase mulherzinha de minha autoria: Amiga é que nem pinça. Você pode ter muitas, mas só uma ou duas são ponta firme.

10 de set. de 2007

Infância pobre

Um amigo tem uma frase que diz que você até pode sair do Belenzinho, mas o Belenzinho nunca vai sair de você. E é a mais pura verdade. A pessoa pode ter sido catapultada ao sucesso mas, mais cedo ou mais tarde, o passado de privações se manifesta, mais forte do que tudo. Não adianta fugir.
Não é a pessoa que não se contém para pegar o último pedaço de pizza, mas a que vê 3 pedaços e pergunta: posso matar? É levar toalhas de papel e garrafas d’água do trabalho pra casa. É estar numa reunião, ver um pote de lápis e não se conter: posso levar um? E leva 4. É não conseguir se desfazer de roupas nem sapatos de anos porque vai que a moda volta? É usar o finalzinho do batom com cotonete. Lavar e reaproveitar o filtro de café. É guardar a barrinha de cereais e o amendoim do avião para mais tarde porque quem guarda tem.
Tirando a pizza e o filtro de café, já fiz todas estas. Mas eu posso porque perdi a catapulta. Agora a melhor é a do meu amigo (não o do Belenzinho) que eu vou chamar carinhosamente de Peter. Ele e uma turma estavam num restaurante e viram que o casal da mesa ao lado foi embora e deixou meia garrafa de vinho na mesa. Nem precisaram fazer votação para decidir pegar a garrafa e dividir irmamente (outro sintoma). Quando estavam fazendo o brinde, o casal volta do banheiro, senta-se à mesa e, bem, aí vieram as desculpas e a frase: pode escolher outro vinho que eu pago. Aproveita e escolhe um mais caro mesmo, que dinheiro não é problema. Problema é o desperdício.

27 de ago. de 2007

Hoje Eu Vou Sair Horrenda

Esta é a mais nova categoria de pessoas que eu tenho observado ultimamente.
Categoria na qual se enquadram mais mulheres do que homens (não sei por que) e consiste no seguinte: a criatura acorda, abre o armário e procura a combinação mais bizarra que conseguir. A saia mais esquisita com a blusa que veste pior, com a meia velha, o sapato estranho, o gorro (sempre tem gorro) e o óculos mais discutível. Tudo acompanhado do casaco puído do brechó da rua Aspicuelta. Depois de vestir tudo isso ao mesmo tempo ela pega uma bolsa de franja, transa umas bijoux e pronto. Já se sente apta a sair por aí, como se nada estivesse acontecendo. E como se nós, os míseros mortais que usam jeans e camiseta, fôssemos obrigados.
Normalmente o corte de cabelo acompanha a esquisitice. E mesmo debaixo do gorro de crochê a gente vê uns fiapos, uma franja que cobre um dos olhos ou uma mecha colorida que lembra o implante de pena do Roberto Carlos.
Todo mundo tem o direito de se vestir como quiser, mas tudo o que essa espécie quer é causar polêmica mesmo. A idéia só pode ser essa. Parecer uma mendiga com aquela sobreposição de malhas com casaco e cachecol: não tenho onde guardar e uso tudo o que me dão de esmola.
Pessoas da categoria Hoje Eu Vou Sair Horrenda gostam que todo mundo fique olhando para elas da cabeça aos pés, com uma das sobrancelhas levantada ou com horror nos olhos. Normalmente falam alto para que todo mundo também as ouça, caso não tenha reparado no pout-pourri do inferno que nos prepararam. E todas devem ter o pôster autografado da Catifunda na porta do guarda-roupa.

13 de ago. de 2007

Faça o teste

Não existe nenhuma possibilidade de você elogiar a roupa de uma mulher e a resposta não ser algo do tipo: É velha. Já usei várias vezes.
Não, você não perguntou há quanto tempo ela tem a bendita blusa ou o fatídico sapato. E sim, a blusa pode ter acabado de perder a etiqueta e o sapato estar fazendo bolhas no calcanhar de tão novo. Mas nenhuma mulher é capaz de admitir isso diante de um elogio.
É um comportamento dos mais estranhos, temos que admitir. Mas muito mais forte do que nós.
Talvez seja uma tentativa de dizer: imagina, nem ligo pra isso, peguei a primeira roupa que vi pela frente hoje cedo. Também pode ser um: é linda mesmo e eu tenho bom gosto faz tempo. Ou uma premonição de que a próxima pergunta será: onde você comprou? E aí o risco da pessoa comprar um sapato tu-do igual ao seu fica enorme. E sapato par de vasos, ninguém merece. Pode ter uma neura do tipo: ela vai pensar que eu ando torrando toda a minha grana em roupas e eu não sou esse poço de futilidade.
Não sei dar uma explicação exata do por quê isso acontece. E se você acha que não faz isso, pode acreditar que é só uma questão de prestar atenção.
Eu cheguei num meio termo. Não admito que a roupa é nova porque simplesmente não dá. Mas também não fico dando muita explicação porque também já é demais. A última vez que ouvi um um “Que vestido lindo”, fiquei alguns milésimos de segundo muda até dizer “comprei num brechó”.
E assunto encerrado.

Discurso de Miss

Tô passada. Já faz um ano (cacildis) que eu respirei fundo e postei o primeiro texto neste blog. Depois morri de dor de barriga esperando os posts. Inicialmente só de amigos, depois de amigos de amigos. E hoje, outros, de pessoas que eu não conheço pessoalmente mas que deixam comentários fofos e habitués. A maioria escritores de ótimos blogs. Uma honra.
Este ano (como é que pode?) me fez pensar que escrevi menos do que gostaria. Mas foi uma delícia pinçar minhas bobagens e decidir: vou colocar isso no meu blog. Muita coisa ficou só no começo. Algumas eu ainda hei de retomar. Outras minha auto-crítica não há de permitir. O legal é ver que o número de comentários aumentou, que quase ninguém fala mal nem reclama de nada do que eu escrevo. Muita gentileza da parte de vocês porque tem uns textinhos bem vagabundos. E bem passíveis de lenha descendo.
Dizem que alguns textos viraram spam. Oba. Mas como nenhum chegou no meu e-mail, e olha que eu recebo dezenas daqueles para aumentar o pênis todos os dias, só acredito vendo.
Valeu para todo mundo que lê. Vivo me prometendo que vou escrever com mais disciplina. E vou.
Que venha mais um ano bacanérrimo.

3 de ago. de 2007

Quase feminista

Em qualquer programa de TV, quando um grupo de homens adultos precisa ser retratado, é batata que em algum momento eles aparecem reunidos para jogar pôquer, falando besteira, bebendo, fumando, apostando dinheiro e depois vão para casa levar bronca da esposa. Perceba a sutileza: eles não estavam fazendo nada demais e tomam bronca da megera. Homem é simples assim.
Nós mulheres, pelo contrário, nunca somos retratadas como ingênuas e boazinhas, que fazem coisas tolas como jogar pôquer. O estereótipo feminino, ou é o de alguém menos avantajada intelectualmente, ou o de uma grande cobra venenosa pronta para o bote. Sempre somos retratadas como figuras descontroladas ou completamente simplórias, para não dizer burras. Que se reúnem para ir ao shopping com amigas problemáticas, fúteis e invejosas que nunca perdem a oportunidade que cobiçar o bofe da outra. Mulheres não têm amigas. Nem amigos, porque amizade entre homem e mulher é pretexto para algo mais. Somos vistas como seres obcecados por um casamento, de preferência movido por grana. Se não tivermos filhos, seremos frustradas e amargas. Pesado, né?
Mas o fato é que, da mesma maneira que a gente sabe que não existe só este tipo de homem do pôquer, não existem apenas mulheres bizarras. É evidente que não. E se ninguém fala isso, nós é que temos que dizer. Mulheres têm amizades sólidas, respeitosas e absolutamente éticas. Só que a gente não chama desse jeito para não ficar pesado. Pode contar: amigos de verdade são tão poucos para os homens quanto para as mulheres. Mulheres têm instintos para “cuidar dos outros” como ninguém. Mulheres são sensíveis, generosas, delicadas, alegres, bem-humoradas. Mulheres amam a companhia de outras mulheres, gostam de emprestar o ombro, se interessam pelos problemas dos outros. Mulheres de verdade não querem o namorado da amiga. Querem é matar a vagabunda que pisou na bola com a amiga, isso sim. E com requintes de crueldade. Mulheres são sedutoras, interessantes e gostosas, Mulheres não são difíceis de entender. A gente não tem culpa se as nossas sutilezas são mal interpretadas. O que não dá é para deixar de ser sutil só para agradar. Nem ter esse comportamento óbvio e desprezível que todo mundo diz que a gente tem, só porque não seria nenhuma surpresa.
Mulheres, brilhem.

23 de jul. de 2007

Ode as saboneteiras

Grupo de amigas falando amenidades. Adoro.
O papo da vez era corpitcho em geral. Uma se gabava do bumbum em cima, outra contava que a colega da firma turbinou os peitos, a outra que fazia mais abdominal do que ninguém. Até que o meu comentário gerou alguns segundos de silêncio e reflexão:
- Eu não sei vocês, mas a parte que eu mais gosto em mim é a saboneteira.
Pode desfazer essa cara de tarado, caso você não saiba o que é saboneteira e esteja imaginando outra coisa. Falei no singular mas deveria ter dito no plural. Saboneteiras são aqueles ingênuos ossinhos e cavidades que ficam entre o pescoço e os ombros. Acho lindo. Não entendo porque uma geração que cultua tanto o corpo esquece dessa parte tão sexy e, ao mesmo tempo, tão despretensiosa do corpo feminino. Mas podem continuar assim que tá ótimo. Acho que é justamente o fato de ninguém ligar, de não existir nenhuma cobrança sobre o padrão de beleza de uma saboneteira que me faz gostar tanto delas.
Todo mundo sabe que o tempo passa, o tempo voa e a poupança cai. Mas se tem uma parte do corpo que vai ficar lá, firme e forte, até o final dos nossos dias são as salientes, estruturadas e magras saboneteiras. E não é preciso ficar fazendo nenhum exercício chato para isso. Pode caprichar no tomara-que-caia e passar na frente de uma obra que eu garanto que você nunca vai ouvir nada parecido com “Sabonetão, hein?”. Nunca haverá sequer um funk carioca dizendo “esfrega, esfrega, esfrega a saboneteira”. Ninguém vai colocar silicone ou botox nem será preciso usar um creme anti-idade para a região das saboneteiras.
Saboneteiras são liberdade pura.

10 de jul. de 2007

Flavio

Durante toda a minha vida ouvi pessoas dizendo que eu tenho humor de menino. Que sou mais desbocada do que a média das mulheres. Que consigo fazer/rir de piadas que essa mesma média não entende. Não por burrice, mas por não dominar “o código”.
Tenho consciência de que consigo mesmo pensar como homem em muitas situações da vida. Meus primos até dizem que eu sou mais homem do que eles. Quando minhas amigas em crise com os maridos começam a me contar a origem dos problemas eu tenho uma clareza irritante para dizer: desculpe, mas eu entendo ele. Muitas já quiseram me matar por isso, mas que eu entendo, entendo.
Tenho muitos amigos homens. Quase tantos quanto mulheres. Eles me convidam para programas tipicamente masculinos como jogar pôquer e ir ao futebol. Nessas horas eu normalmente tenho que dar aquela situada: ei, preciso te lembrar de um detalhezinho besta agora mas eu sou mulher, sabe? Pôquer é demais.
Já ouvi esses mesmos amigos comentando algo sobre paquerar e ter casinhos com amigas. Quando eles se referem a mim, dizem: ah, a Flavia não conta. As mulheres deles também já me disseram que eu sou a única amiga mulher dos seus respectivos de quem elas não sentem ciúme.
Querem parar? Alguém pode parar de me achar legal e começar a me achar gostosa para caralho, por gentileza? Você tem pinto? Eu não. Sorry, mas eu estou longe de ser uma pessoa assexuada, tenho faniquitos de mulherzinha, sim. Muitos. Este aqui mesmo que você está lendo, por exemplo. Dá para ser mais delicado e me dar mais atenção do que você daria para qualquer marmanjo? Dá para elogiar como homem, pô?

Pronto. Já estou me sentindo melhor. Blog é melhor que terapia.

28 de jun. de 2007

A noite não é uma criança

A fonte é o pai de um amigo meu. Mas olha que delícia de cultura inútil.
Em todos os idiomas europeus, a palavra NOITE é formada pela letra N + o número 8 escrito por extenso.
A letra N é o símbolo matemático de infinito e o 8 deitado também simboliza infinito. Ou seja, noite significa, em todas as línguas, a união do infinito.
Em português: noite = n + oito
Em inglês: night = n + eight
Em alemão: nacht = n + acht
Em espanhol: noche = n + ocho
Em francês: nuit = n + huit
Em italiano : notte = n + otto
Agora você já sabe. Se alguém chegar com aquele papinho de elevador de que a noite é uma criança, pensa nisso e arrasa no comentário.

União do infinito é lindo de morrer.

15 de jun. de 2007

Presente de namorado grego

Não sei você, mas eu nunca dei sorte com presente de namorado. Minto, já rolaram alguns presentes bem fofos, sim. Mas por algum motivo não consigo lembrar de nenhum para citar (logo, não foram tão fofos assim). O que lembro mesmo foi da sensação de “o que é que eu digo agora?” depois de abrir os pacotes.
Já ganhei aqueles bichos de pelúcia com olho de gente. Pra mim não tem coisa mais deprimente do que um urso com cílios da Elke Maravilha. Pois ganhei o mais chavão de todos, da Lionella. Nunca tirei da caixa.
Outra vez o presente até que era ok, mas o gato errou no cartão: ele comprou um desses que se dá para recém-nascidos. Aliás, por que dar um cartão para um recém-nascido? Tinha a ilustração meiga de um cachorrinho de fraldas e os dizeres eram algo como “que bom que você chegou, fofura”. Branco na hora de escrever um cartão eu entendo. Mas para comprar é de doer.
Mais um: na época da faculdade, eu era pouco mais do que uma adolescente e me apaixonei por um cara intelectual. Estava encantada e vivia me esforçando para mostrar que eu era suuuper madura para a minha idade. Adivinha o que ele me deu de presente? Um diário desses bem teenager, com ilustrações e adesivos para colar. Ju-ro.
Para fechar com chave de ouro: viagenzinha romântica, praia, tudo lindo. Até que chega a hora de trocar presentes. E eu me deparo com um CD da Lecy Brandão. Não, não era o acústico MTV da Lecy Brandão que, se existisse, já seria bem bizarro. Era um daqueles tipo: os 20 maiores sucessos. Juro que procurei a câmera escondida do Faustão. Dei uma sonora gargalhada e pensei: ele tá me sacaneando, que bonitinho. Mas não.

Tem mais. Mas chega, né?

11 de jun. de 2007

Tratado sobre a mulher gaúcha

Apesar da formalidade do título, é lógico que este texto não tem nenhuma fundamentação. Ele começou a se formar na minha cabeça depois de um papo animadíssimo com velhos e novos amigos numa mesa de bar. Entre os novos amigos estava uma gaúcha, como eu, que soltou uma frase interessante: você não é exatamente amiga de uma mulher gaúcha, até ter um bom desentendimento com ela. Acho que para amigos isso não serve tanto. Mas não lembro de nenhum relacionamento que eu tenha tido que não passou pelo tal papo para colocar os pingos nos is. Uma conversa/discussão com teor suficiente para colocar um ponto final na bagaça, mas que foi fundamental para tudo ficar às mil maravilhas.
Coincidência ou não, fiquei divagando a respeito. E faz um sentido enorme que nós, mulheres gaúchas, tenhamos esta peculiaridade, essa enorme herança cultural. Somos “faca na bota” mesmo.
Sem generalizações, viemos de um estado em que, durante muito tempo, ter um bom cavalo era muito mais importante do que ter uma grande mulher por perto. Mesmo as novas gerações que já não sentem isso tão na pele, carregam o histórico de parentes que eram machistas (muitos fingem que não são mais) e de mulheres que sofreram preconceito quando não fizeram exatamente-o-que-a-sociedade-esperava-que-elas-fizessem. De novo, sem generalizações, somos exigentes para caralho, temos pé atrás, temos postura e pontos de vista muito claros, gostamos de expressá-los e, em hipótese nenhuma, levamos desaforo para casa. Pela honra e pelos genes das nossas mulheres ancestrais, que tanto sofreram e tanto nos influenciaram.
Não, nós não vamos sair queimando sutiãs nem vestidos de prenda por aí. Mas somos um pouco mais inflamáveis do que o padrão feminino. Aliás, quando as pessoas acham que a gente está alterada, para nós a discussão ainda nem começou. Somos naturalmente alteradas, para o bem e para o mal. Tudo isso para dizer que as mulheres gaúchas ladram mas não mordem. Isso, se você manter uma significativa distância dos nossos calos.

PS: Ler este texto pronto me deixou com uma impressão que eu odeio, abomino, detesto. A de que os gaúchos acham que são pessoas diferentes ou especiais. Pedi a opinião da Luciene, amigona, gaúcha e mulherão, que espontaneamente sentiu a mesma coisa. Não estou falando de diferenças aqui, mas apenas de peculiaridades. Só posso escrever com propriedade sobre a minha própria experiência. Este sentimento de superioridade é justamente o que estou questionando neste texto. Não faria nenhum sentido reafirmá-lo. Tá vendo como o estigma é forte?

1 de jun. de 2007

Quer que desenhe?

Sempre fui muito melhor com as palavras escritas. Principalmente para dizer coisas importantes. Cartas, e-mails, esboços de coisas que precisam ser ditas sem gaguejar. Mando ver mesmo. Mas não tem nada mais difícil do que escrever coisas importantes nessas ferramentas de mensagens instantâneas que a gente usa todos os dias, tipo msn. Acontece que alguém estabeleceu algumas regras que atrapalham a comunicação nesses troços. Por exemplo: se você escreve em caixa alta está gritando (já me disseram isso). Às vezes você faz uma brincadeira que, para você é óbvio que é brincadeira, mas chega do lado de lá como uma bomba. E quando dá vontade de fazer o equivalente àquela olhada fulminante no fundo dos olhos. Como se faz isso? Como mandar um recado sutil nas entreletras (especialidade feminina)? Se passar alguma intenção em mensagens instantâneas é difícil, imagine segundas intenções. Deve ter sido por isso que inventaram aqueles desenhos tipo emoticons para ajudar. Você escreve o que quer dizer e, para não correr o risco da pessoa não entender sua intenção, você desenha (no meu tempo isso era como chamar de burro, acho péssimo). Para piorar, mensagens instantâneas exigem espirituosidade instantânea. Coisa que não existe, a não ser que você use chapéu de couro e seja um repentista dos bons. Quando tudo indica que o diálogo está engrenando, que o clima esta pintando, os comentários espirituosos ficam colados em algum lugar do seu cérebro. Como aquele pé de meia que sempre fica na parede da secadora de roupas. Eles não querem ser encontrados. Ou é a gente que quer falar tudo logo de uma vez, pessoalmente e bem de perto?

“Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: não há nada que substitua o sabor da comunicação direta”. Mario Quintana

17 de mai. de 2007

Pessoas Separadamente Bonitas

Acabei de inventar esta categoria. Mas tenho certeza que você conhece ou já viu por aí gente desse tipo. Almoçando com amigos outro dia, eis que senta na mesa ao lado um cara moreno, alto, olhos verdes, sobrancelhas definidas, rosto quadrado, magro, forte, que se veste bem. Lendo assim, quais são as chances dessa pessoa ser feia? Pois acreditem: o cara era o cão. Estava diante de meus olhinhos um Homem Separadamente Bonito. Este tipo costuma se dar muito bem em salas de bate-papo, namoros virtuais ou naqueles serviços de namoro por celular que a gente vê na TV de madrugada, quando está chegando da balada.
Abre um parênteses aqui: chegou da balada e ligou a TV = voltou zerado pra casa. Zerado + bebinho = dá vontade de ligar para alguém. Os caras são gênios. Fecha parênteses.
Pessoas Separadamente Bonitas se dão bem nessas coisas sem precisar mentir para ninguém. Falam nada mais do que a verdade e devem arranjar pencas de pretendentes. No dia de libertar essa relação da tela do computador, de tirar a vida do papel, o sujeito aparece do jeitinho que ele descreveu. Mas completamente diferente do jeito que a pretendente em questão imaginou.
Normalmente, Pessoas Separadamente Bonitas têm Orkut e msn. Mas elas não são bobas nem nada e colocam apenas a foto do olho. Ou dos dois olhos. Geralmente verdes, cor de mel, com longos cílios. Quem pode imaginar um desastre circundando um par de grandes olhos cor de mel? Não deixa de ser um recurso, ora. Se colar, colou. Onde está escrito que beleza não pode ser vendida separadamente?

PS: Existiu uma comunidade no Orkut chamada: Quem Põe Foto do Olho é Feio. Era uma das minhas preferidas, mas parece que foi deletada. Peninha.

11 de mai. de 2007

Soy cafona?

Adoro novela. O lugar que eu mais amei conhecer na vida foi o México. Acho Wando simplesmente genial. Tenho sandália de oncinha. Canto Corazón Partío, do Alejandro Sanz aos berros. Ouço Corazón Partío, do Alejandro Sanz. Tenho o CD do Alejandro Sanz. Já chorei naqueles quadros que mostram a vida dos artistas no Faustão. Choro ouvindo Roberto Carlos cantando Detalhes. Mostro todas as peças da casa para as visitas. Tenho imagens de santos e flores de plástico. Estou procurando um anão para o meu jardim. Já cantei num Karaokê em Cuba. Nas festas da minha família a gente arrasta a mesa de centro e dança na sala. Gosto de macarrão com feijão. Uso flor no cabelo mesmo antes de ser moda. Fiz baile de debutante. Já puxei a Macarena num casamento. Quando sambo eu levo a sério. Escrevo cartas de amor. E mando. Uma das minhas sobremesas favoritas é sagu. Já levei o arranjo de flores do casamento para casa. Tenho uma foto autógrafada do Lombardi. Tenho foto com o Otávio Mesquita. Tenho foto bebendo champagne de bracinho cruzado com a paraguaia Perla. É. Acho que sou.

7 de mai. de 2007

Isso e um sinal

Típico de mulher é achar que qualquer coisa que acontece na vida é um sinal. Sinal dos céus, sinal do destino, sinal de que ela tem que fazer alguma coisa. E normalmente essa coisa é catar o telefone e ligar para aquele bofe que anda sumido. Estranho é que o fato dele ter desaparecido nunca é um sinal de que ele não está a fim. De jeito nenhum.
Esse comportamento é o que eu costumo chamar de mistura de Pollyana com Mãe Dinah. Veja um exemplinho besta: alguém te conta que o seu ex-affair mudou para o Rio de Janeiro. Aí você vai ver seus e-mails e, quando entra no uol, pipoca um banner enorme da Tam com promoção de ponte aérea por R$ 20,00. Pimba. Isso é um sinal.
Esse até que foi bem direto porque, quanto mais remoto for o sinal, mais sinal é. Sinal bom mesmo é aquele que precisa de um bom contorcionismo no raciocínio para fazer sentido. Mas nós mulheres tiramos de letra porque raciocínio Cirque du Soleil é nossa especialidade.
Você acorda atrasada, mais precisamente às 9:30h, 9+3+0=12, 1+2=3. Três é o número de vezes que você saiu com o cara. Aí é só encontrar uma amiga e contar: “Nossa, olha que louco. Hoje acordei e a primeira coisa que aconteceu foi um sinal daqueles”.
Sinais fazem o sentido que você quiser que eles façam. Dependem da ligação que você, e só você, faz dentro dessa cabecinha de pudim. Quando a gente vê muitos sinais por aí, deve ser sinal de que a vida anda meio monótona, isso sim.

10 de abr. de 2007

Deixa que eu traumatizo

Ando numa fase sossegada e seletiva. Maneira elegante de dizer que não tô pegando ninguém. Eu sei que é fase e que vai passar mas o que acho desanimador é a falta de gente interessante por metro quadrado na face da Terra. É cada um que me aparece que simplesmente não dá. Ou melhor: não dou.
A maioria dos caras que se aproxima deve me confundir com a terapeuta e já mostra de cara que é traumatizado por algum motivo. Antes de você saber o que ele faz da vida, já sabe o quanto a vida dele anda difícil desde que saiu de um relacionamento de anos. Antes de dizer se quer dançar ou ir ao bar ele já adianta que não quer se envolver agora, que as últimas mulheres que conheceu olham para ele pensando em casamento. Antes que você sequer decida se vai continuar ali, se vai ao banheiro ou vai procurar suas amigas, ele já deixou muito claro que acha as mulheres de hoje muito agressivas.
Pára tudo: se é pra ter homem traumatizado por aí, deixa que eu traumatizo. É por essas e outras que a mulherada anda se divertindo cada vez mais com os caras mais novos. Uma “juventude promissora”, com o papo tão legal quanto o corpinho e muito, mas muito menos chatos. Sorry para as mulheres mais novas do que eu, que vão chegar aos trinta e poucos e conhecer uma nova geração de traumatizados, mas eu provavelmente terei alguma coisa a ver com isso.
E quanto a vocês, homens de trinta e poucos: que mania de achar que toda mulher está desesperada para casar. Fiquem sabendo que elas estão é viciadas em liberdade, isso sim. Que está complicado abrir mão dessa sensação de posso tudo em nome de um relacionamento, se o cara não for muito gente boa. Veja que eu não estou falando de beleza nem de nenhum pré-requisito que aparece na revista Nova. Meu amigo, presta atenção e segue o meu conselho: se é pra chegar numa mulher com esse papinho bizarro, não fala nada. Faz que nem na novela: não fala nada e me beija. Agora vê se beija direito.

4 de abr. de 2007

Estatuto da Criança

Juro que não é instinto materno, que só daqui a uns anos vou pensar nisso, mas ando achando criança a coisa mais legal do mundo. Não consigo desgrudar os olhos delas no shopping, na fila do supermercado e no trânsito. E sei que fazer isso é papel delas e não de uma marmanja como eu. Adulto até pode ter comportamento de criança, mas o contrário é muito esquisito.
Ano passado fui para Lisboa e tinha ataques, chiliques de riso quando via e ouvia as crianças falando com sotaque português. Mil perdões aos nossos colonizadores mas esse sotaque foi feito para ser falado por homens ou mulheres de bigode. Nunca por crianças.
Outra coisa: criança tem que ter nome de criança. Quando morava em Porto Alegre, um dia estou no ônibus para o trabalho e uma mulher entra com um gurizinho fofo, cheio de roupas, casacos e gorros. Ela paga o bilhete e diz para a criança: “Dorneles, passa por baixo da catraca”. Pára que eu quero descer. Como assim chamar aquele pequenino de Dorneles? Adelaide? Dirceu? Mano Vladimir?
Tem coisa mais deprê do que ver pimpolhos usando roupas ou óculos de sol de adulto, só que em tamanho pequeno? Crianças têm que usar óculos de sol cor-de-rosa com abelhinhas ou verde com o Jaspion. Eu tinha um óculos de gatinha verde que era tu-do. E fui criança até as brincadeiras de Barbie mais parecerem uma sessão do sexy hot. Até ser consenso entre as amigas: agora chega.
Parem com essa mania de agência de modelos. Salvo raras exceções, os pais acham os filhos muito mais bonitos do que eles realmente são. No meu tempo, as mães colocavam as crianças no jazz, e isso já era patético o suficiente.
E crianças-atrizes? Estas que fazem papel de adulto nos programas de TV e nos filmes? É insuportável ver um texto adulto saindo de uma boca que ainda nem trocou os dentes.
Eu tenho medo de crianças que falam como adultos. Elas podem ser inteligentes, espirituosas e brilhantes fazendo comentários de crianças. Como o filho de um amigão meu. Depois de cantar aos berros “Nós gatos já nascemos pobres, porém já nascemos livres” ele olha intrigado e pergunta:
- Pai, o que é porém?

23 de mar. de 2007

Tire Proveito da M*

Quando a cartela de pílulas anticoncepcionais chega na sua reta final, começa a TPM.
Para algumas mulheres, a reta final é a do menor lado do retângulo e dura umas 3 pilulinhas. Outras precisam de um lado maior inteiro e ficam mais de uma semana enchendo o saco de todo mundo que está por perto. Eu já vi de tudo nessa vida: de mulheres que nem sabem o que é TPM, às que chegam a mudar a fisionomia por conta da revolução hormonal que antecede a menstruação. Já que é inevitável e que todas nós, que estamos na flor da idade, ainda vamos passar por isso por muitos anos, cheguei à conclusão de que a melhor coisa é usar toda essa energia para o bem. Como o meu primeiro sintoma de TPM é a Síndrome da Organização, aproveito para conferir extratos bancários, arrumar a gaveta das calcinhas, jogar papéis fora e finalmente mandar imprimir fotos digitais. Cada mês uma dessas partes da minha vida entra nos eixos. O segundo sintoma é ficar absurdamente sensível. Então levo lenço de papel na bolsa e tiro o atraso do cinema. Vejo 3 sessões seguidas e choro muito, sem medo do nariz batatudo na saída. Fora isso, considero meus amigos para caralho, ligo mais para meus pais e amasso muito o meu cachorro. E como o terceiro sintoma é o fato dos meus seios ficarem maiores na TPM, aproveito para caprichar no decotão e sair de casa me achando A Turbinada.
Para saber se eu estou de TPM é simples assim: se eu estiver limpando gavetas, chorando com powerpoints sobre o sentido da vida ou usando o maior decotão, é batata.

9 de mar. de 2007

Por que as mulheres não são engraçadas?

Sim, eu estou plagiando a capa da Ilustrada desta quinta, 8 de março, dia internacional da mulher (eita datinha que já podia expirar). Um amigo leu e lembrou de mim (tks, Rapha). Eu li e lembrei de mais uma penca de amigas que são muito engraçadas. Mas depois de ler fui obrigada a concordar com as afirmações mais do que desconcertantes de Christopher Hitchens, escritor e ensaísta britânico que se baseou em razões científicas e sociológicas para provar esta tese. E por mais que me doa dizer isso, estou totalmente convencida.
Ele afirma que humor é uma capacidade muito mais inerente aos homens do que às mulheres. Porque para os homens, ser engraçado é uma arma usada na conquista. Eu e todas as mulheres que conheço adoramos homens que nos fazem rir. Mas nunca ouvi um amigo sequer, falando empolgado sobre ter tesão por uma mulher que o faz dar gargalhadas.
Ele é mais taxativo do que isso. Afirma que “há mais humoristas mulheres péssimas do que humoristas homens péssimos (...) e se você olhar mais de perto, verá que a maioria é gorda, lésbica, judia ou um misto destas três coisas”. Eu acho isso muito foda, mas se você passar por cima da má impressão, vai ver que ele não está dizendo nenhuma mentira. Eu, que não sou gorda, nem lésbica, nem judia e tenho pretensões de um dia viver às custas de textos de humor, estou praticamente na lama. É isso, então?
Estranho, mas ler o ensaio não me deixou com esta sensação. Pelo contrário. Apesar de concordar com tudo e achar o texto genial, me sinto ainda mais especial por não fazer parte da maioria pasteurizada e conquistável, que seria capaz de frear seu senso humor para não se sobressair num diálogo com um homem.

Eu perco o bofe mas não perco a piada.

7 de mar. de 2007

Choro Tecnico

Sempre tive uma inveja danada de quem sabe chorar bonito. Aquele choro digno em que as lágrimas escorrem mas o rímel não. O choro que a gente vê em todos os capítulos das novelas da Gloria Perez e das mexicanas. Que não deixa o nariz batatudo, nem vermelho, nem escorrendo. O choro que permite que você fale durante, sem engasgar, soluçar e tossir.
O meu choro é o mais feio que eu já vi. E como sou uma pessoa que chora com facilidade, vira e mexe preciso lavar o rosto no banheiro da firma, esperar todo mundo sair do cinema, não atender o telefone em dia de eliminação do big brother ou simplesmente não usar rímel.
Devia existir um curso para isso. Você passaria por treinamentos em que aprenderia a identificar e lidar com os diferentes tipos de choro: o sem-motivo, o interminável, o compulsivo, o de alegria. Mas tudo com um objetivo final muito claro, um nível de aprendizado e auto-controle altíssimo. As poucas mulheres que conseguissem chegar ao final deste curso seriam admiradas e invejadas, virariam referência e dariam palestras pelo mundo. E quando elas andassem pelas ruas, as outras iriam se cutucar e comentar com admiração:
- Essa daí engole.

27 de fev. de 2007

Pelo amor

A maior prova de que os adultos são uns grandes filhos da puta é terem inventado a maçã do amor. Quando você olha para todas elas enfileiradas na carrocinha do parque de diversões, vê todos os pré-requisitos do que deve ser a coisa mais maravilhosa que uma criança poderia ter na vida: vermelha, brilhante, caramelizada. Tão perfeita que você abre mão de um rolê na roda gigante em troca de uma delas, sem pestanejar. Negócio fechado, jura que você vai me dar uma dessas, mãe? Será que eu mereço tanto? Seus pais vão lá, compram, entregam na sua mão e você, pequeno e fascinado por aquele manjar dos deuses, pensa na melhor maneira de morder sem estragar nada. É um momento inesquecível até que seus dentinhos de leite cruzam a barreira do caramelo e se deparam com a coisa mais insossa do planeta. Acho que essa foi a primeira decepção que eu tive na vida, só comparável a ver a Simony na Playboy. Para que fazer isso com as pobres criancinhas? Depois elas é quem são cruéis.

13 de fev. de 2007

Categoria Rei Leao e Categoria Simba

Duas coisas me deixaram pensativas quando eu assisti O Rei Leão no cinema. A primeira é como os pais fariam para controlar o choro e as perguntas incrédulas das criancinhas na hora em que o leão pai morre pisoteado pelos gnus.
A segunda é como os ilustradores conseguiram estabelecer duas categorias de leões tão distintas. O leão pai era o fodão, tinha uma postura de macho, orgulhoso, corajoso sem fazer nenhum esforço para isso. Simba já é outro naipe: o principiante, porra-louca, perdidaço na vida. Nem quando ele assume o trono de rei no final do filme, perde a cara de Rei Leão Jr.
Eu passei a usar essas duas categorias para um monte de coisas.
Já tive um cachorro pastor alemão que era o Rei Leão dos Pastores Alemães. Hoje tenho um vira-lata totalmente Simba.
Professores e chefes também se enquadram nessa categoria: tem o Rei Leão, que você admira pela postura, pelo poder. E tem o Simba (e como tem).
Marlon Brando era um Rei Leão de homem. Gael García Bernal é um Simba. No caso, simba lá pra casa. Mas é um Simba.
Todo mundo tem aqueles bofes Simbas que ficaram aí pela vida, bonzinhos, precisando superar algum trauma ou com muito o que aprender. Agora, cá entre nós, nada como um bofe Rei Leão na vida de uma mulher. Chega a ser covardia. Hakuna Matata, baby.

3 de fev. de 2007

Os sons mais horríveis do mundo

Li no Terra outro dia que “um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa Acústica da Universidade Salford, na Inglaterra, listou os sons mais horríveis ao ouvido humano”. Foi feita uma pesquisa com mais de 1 milhão de pessoas do mundo todo. Os cientistas determinaram que o som de uma pessoa vomitando é o pior de todos (!!!).
Necessariamente nesta ordem, aí vai a relação dos piores sons do mundo:
Vômito, Microfonia, Bebês chorando, Rangidos de trem freando, Balanço em um playground, Violino desafinado, Flatulência , Um bebê chorando, Discussão em uma novela, Barulho de corrente elétrica, Grunhido do diabo da Tasmânia, Miados desesperado de um gato, Tosse, Toques de telefones celular, Porta rangendo, Latido de cachorro, Barulho de alguém fungando, Giz em um quadro negro, Barulho de isopor e Broca de dentista.

Agora a pergunta que não quer calar: como é que ninguém mencionou aquela música da Ivete Sangalo que diz “Chupa toda. Disse toda” nessa pesquisa?

23 de jan. de 2007

Definitivamente não

A escova definitiva está para as mulheres assim como o Combover está para os homens.

Para quem não sabe, Combover é aquela meia dúzia de fios de cabelo que os calvos deixam crescer para pentear para o ladinho e cobrir a careca. Quer dizer, cobrir pelo menos a parte da frente, que eles enxergam no espelho (a quem o Geraldo Alckmin pensa que engana?).
Pois a escova definitiva, prima do alisamento japonês ou, olha a que ponto chegamos, alisamento com chocolate são as novas maneiras da mulherada praticar a auto-enganação.
É complicado olhar para o espelho e não gostar do que você vê do lado de lá. Mas existem profissionais para o lado de dentro da cabeça que costumam ser muito mais eficientes do que estes alisamentos-que-tá-na-cara-que-são-artificiais-e-detonaram-seu-cabelo.
Não tem nada errado em querer variar o visual, dou o maior apoio. Mas para isso existem técnicas menos radicais, menos feias e que, pelo menos, te dão o direito de pensar “não gostei, lavei e tá novo”.
Esse fim-de-semana fui à manicure e fiquei encantada com a arte de dizer nada de um cabeleireiro, tentando convencer uma garota de cabelos ondulados e lindos, a alisar de vez. Ele mesmo tinha um cabelo que mais lembrava um espanador, de tão esturricado. Ficava enrolando uma mechinha seca no dedo e falando horas sobre as cutículas, folículos, queratina e sobre “alimentar o cabelo” (deve ser aí que entra o chocolate).
Eu não sei o que acontece. As pessoas tendem a formar uma auto-imagem errada na frente do espelho. Elas acreditam por aquele princípio infantil: quando você acredita, acontece. Será que falta alguém para avisar que sim, dá para perceber que isso que você fez na cabeça é artificial e deixa seu visual pior? Que tá na cara que muito produto químico passou por aí ou que quando você respira dá para ver a sua careca? Se ninguém tem coragem de dizer que os seus cabelos parecem cabelos de boneca, eu me habilito. Desculpe, mas nada bom pode ser associado ao uso de formol.
O que? Seu cabeleireiro disse que tem uma técnica nova e que o seu ficou ótimo, perfeito e super natural? Jura que ele disse?

22 de jan. de 2007

Um de cada vez

Trinta anos é um período intermediário e delicioso da vida. Você não é mais uma garotinha mas também está longe (que foi?) de ser uma coroa. Acho que é o momento em que as mulheres se sentem mais plenas. Já têm experiência, provavelmente já são independentes e isso dá uma sensação de liberdade que chega a ser perigosa, porque vicia. A mulherada tem a sensação de que pode tudo. A vida fica decifrável e muito mais simples para quem tem trinta (e três, no meu caso). Mas claro que nem tudo é perfeito e eu tenho uma reclamação a fazer.

Por que diabos espinhas e cabelos brancos precisam existir ao mesmo tempo?

Ou eu sou pós-adolescente e ainda tenho espinhas, ou sou pré-coroa e já tenho alguns fios brancos. Dá para se decidir, pô? Acho mais do que justo que elas piquem a mula no mesmo instante que eles chegarem. Os dois, ninguém merece. O conflito de gerações fica estampado na testa da gente. Como se não bastasse, os fios brancos são muito estranhos nessa fase: duros, espetados, parecem antenas. As espinhas também vêm meio descompensadas, no meio da bochecha. Já não respeitam mais a zona T, onde passaram a adolescência inteira. Acho que são contagiados pela sensação de “posso tudo” das mulheres e chegam chegando. Firmes, fortes, seguros, contrariando regras. Regras são para adolescentes e velhinhos nos asilos, ora.

PS: Será que o Walmor Chagas tem espinhas?

19 de jan. de 2007

Laranjas, uni-vos

Queria pedir para o matemático Oswald de Souza fazer a gentileza de calcular a probabilidade real de uma pessoa encontrar a tal metade da laranja, que os românticos inveterados tanto procuram.
Imagine que o mundo é mesmo feito de bilhões de laranjas divididas ao meio e espalhadas aleatoriamente por aí.
Quando na vida você vai encontrar a sua?
Tem que ter muita ajuda divina para isso acontecer. Ok, vamos ser beeeeem otimistas, partir do pressuposto que o destino vai conspirar, as preces da sua mãe serão ouvidas e sim, você vai esbarrar na sua.
Você, como a metade 1, tem que olhar para a metade 2, aceitar aqueles furinhos na casca, achar aquela cor amarela apetitosa e se jogar. Mas a metade 2 tem os mesmos direitos, pô. Ela também tem que abstrair os seus furinhos e querer encaixar os gominhos dela nos seus. Concorda que, mesmo quando você encontra, é difícil as duas metades entrarem num consenso?
Depois, a gente anda exposto a tanta laranja nessa vida que não dá para escolher, assim de sopetão, ao lado de qual delas você vai querer virar um bagaço. A maioria é meio sem gosto, tem as que só servem para suco, aquelas pequenininhas, que só misturando na pinga para engolir. Quantas vezes você já caiu de boca numa laranja que era metade cheia de caldinho totoso e a outra metade totalmente seca? Vai que a metade que te cabe é uma dessas? Eu, hein. Sou mulher de passar o resto da vida comendo laranja como quem mastiga um plástico-bolha?
Quer saber? Melhor do que procurar a sua metade, é ir atrás da salada de frutas toda. Abrir o leque e, quem sabe, começar a achar uma metade de carambola mais interessante do que tudo o que você já viu na vida.

16 de jan. de 2007

A outra voz

Não sei se existe explicação científica, mas todo mundo tem aquela outra voz para falar com namorado(a), marido(a) ou cachorro(a). Uma voz que oscila entre o infantil e o imbecil e que não é opcional. Por mais que você tente evitar, é ela que sai da sua boca quando você fala por telefone com o bofe ou quando vai coçar a barriga do peludão. Ela aparece onde você estiver, sem distinção: na rua, na chuva, na fazenda, numa casinha de sapê, numa reunião de trabalho, numa mesa de bar com os amigos, na fila de supermercado, no cinema. Um inferno.
Tem gente que consegue deixar isso ainda mais requintado: como se não bastasse a voz, ainda cria um vocabulário próprio, com palavras, vogais e consoantes trocadas. E muito, muito diminutivo. Não é mais amorzinho, mas amojinhu. Não quero pode ter a versão não quelo ou num telo, dependendo do grau de intimidade. Não vou nem entrar no mérito dos apelidos para não me estender. Porque existe a categoria que substitui o nome do indivíduo e a outra, que vai mais longe e insiste em colocar nomes fofos nos órgãos genitais do parceiro.
O fato é que todo mundo sabe que é ridículo, que é tosco, mas também que é uma delícia ter esse ímpeto de falar axim com alguém. Essa deve ser a tal voz que vem do coração, que todo mundo vive dizendo para a gente escutar. Sei não. Se for ela, escuta mas dá um desconto. Que essa voz não é nada confiável.

(O espaço dos comentários está aberto para você contar o seu jeitinho de falar. Ou o jeito daquele primo de um amigo seu, se isso te deixa mais à vontade. Pode postar como anônimo, bobo.)