25 de abr. de 2010

Não contavam com minha astúcia


Quando eu contei para as pessoas que passaria o sábado num evento de fãs do Chaves e Chapolin com a presença do Seu Barriga e do Quico, as reações oscilaram entre inveja, admiração e desconfiança de que eu era meio doida.
Nunca neguei para ninguém que gosto de coisas pop e duvidosas como as novelas mexicanas, Chaves, Chapolin, etc. Quando soube que haveria este evento em São Paulo com a presença dos 2 atores, mais os dubladores dos episódios, tratei de garantir a minha presença. Fui acompanhada de dois amigos igualmente (ou mais) fanáticos: O Luciano e o Fuku. Chegamos lá por volta das 2 da tarde e nos deparamos com uma situação estranha. Você deve estar pensando: lógico. Mas foi mais complexo do que parece.
Pense num lugar longe. O evento foi lá. Aconteceu num pavilhão sem sistema de ar-condicionado e com saídas muito pequenas para a quantidade de pessoas presentes. Ouvi falar em 7 mil pessoas e, se elas fossem gente normal, ok. Mas eram adultos fantasiados dos personagens e estranhamente sérios. Digo isso porque se eu saísse da minha casa com bobs no cabelo, vestida de Dona Florinda, estaria pelo menos rindo da situação com as pessoas que me ollhavam. Mas eles estavam sérios. Este foi o problema: eles estavam levando tudo aquilo a sério demais.
Aí vem o Chaves, Chaves, Chaves, todos atentos olhando para a TV era entoado como se fosse um hino religioso. Quando a dubladora da Chiquinha fez o inconfundível choro no microfone eu juro que vi um princípio de ola. Um casal estranho e bem adulto chegou vestido de Chaves e Chiquinha, com um bebê no carrinho vestido de Chaves e o olhar deles me arrepiou. Eu cheguei a comentar: gente, e se alguém saca uma arma e começa a dar tiros aqui dentro? Vai ter gente sendo pisoteada porque os organizadores não tinham o menor controle sobre aquelas pessoas que se esmagavam para tirar fotos numa réplica da vila do programa ou carregando um aerolito ou a múmia do Chapolin.
Uma hora o Luciano falou: aquele cara ali até que parece com o Quico. E o Fuku respondeu irritado: Desculpa, mas aqui ninguém parece ninguém. Era verdade. Ninguém parecia com ninguém.
Enfrentamos uma fila enorme para comprar água e, em seguida, fomos informados que não tinha mais nenhuma bebida. E eram apenas 3 da tarde de um evento programado para acabar às 8 da noite. Um dos organizadores estava vestido de Chaves gritando no microfone para que as pessoas se sentassem no chão. Ele começou pedindo educadamente mas logo perdeu o controle e começou a gritar de uma forma muito estúpida, ao som das vaias da platéia, que se negava a sentar.
Eu, o Fuku e o Luciano nos olhamos com duas sensações em comum: medo e vontade de ir embora dali agora.
Seu Barriga que, veja a ironia, fez cirurgia de redução de estômago, iria chegar às 3 e meia. Mas a gente não teve coragem de esperar nem mais um minuto. Uma hora foi o que a gente suportou e decidimos vir embora antes que aquilo tudo piorasse porque a fila de pessoas chegando era interminável e o calor, cada vez maior.
Para nós, o evento foi um mico, não vimos nossos ídolos, mas demos boas gargalhadas e ganhamos mais uma história para contar para os netos. Que, se depender da gente, também serão fãs de Chaves e Chapolin. Só não a esse ponto.

6 de abr. de 2010

Telefone sem fio


É difícil de explicar, as regras são bizarras e muitas você precisa decorar para aprender. Mas trabalha um pouquinho escrevendo para ver se você não se apaixona pela língua portuguesa. Sei que parece papo de bicho grilo, mas os idiomas têm vida própria. E a maior prova disso são as origens das expressões. Eu sou apaixonada. Não canso de me surpreender com os motivos pelos quais falamos o que falamos. Não sei se estes exemplos são 100% fundamentados mas adoro, coleciono e hoje decidi colocar alguns aqui.

Quando uma pessoa está “com o bicho carpinteiro”, significa que ela está inquieta, não pára, está agitada. Mas o que diabos é um bicho carpinteiro? Cupim? Não. É muito mais legal do que isso: originalmente se dizia que a pessoa “estava com bichos no corpo inteiro”. Motivo mais do que suficiente para não conseguir ficar quieta.

Olha essa: antigamente, quem ganhava o prêmio máximo do jogo do bicho levava 25 mil réis, e isso representava a vaca ou fazer a vaca. Foi assim que surgiu a famosa “vaquinha”. Fazer uma vaquinha era tentar juntar o máximo de dinheiro possível.

“O filho do Tarcísio Meira é ele cuspido e escarrado”. É feio mas significa que eles são idênticos. Por que? Lá nos antigamentes, quando alguém queria dizer que o filho era a cara do pai, dizia: “este moleque é o pai esculpido em carrara”. Elaborado demais para quem nem imaginava que carrara era um tipo de mármore.

As primeiras telhas feitas no Brasil eram de argila, modeladas nas
coxas dos escravos. Como eles variavam de tamanho e porte fisico, as telhas ficavam com formas diferentes. E uma casa com telhas cada uma de um tamanho, ficava meio esquisita. Foi assim que surgiu a expressão “feito nas coxas”, que quer dizer “feito de qualquer jeito”.

Só mais uma e eu paro: "tintim por tintim". Acho tão bonitinha que queria que tivesse alguma relação com brindar. Mas na verdade “tintim” é a onomatopeia do tilintar de moedas quando uma cai sobre a outra. Lá nos primórdios era usada para descrever uma dívida paga até a última moeda. Ou seja: tudinho, mas tudo mesmo.

PS: O Mario Prata tem um livro delicioso sobre isso chamado "Será o Benedito?". Joga no Google.