17 de jan. de 2011

Quem amou bate aqui


Valeu cada centavo. E não foram poucos. Não vou nem entrar no mérito do evento com produção mixuruca e telões bagaceiros para ingressos tão caros. Vou entrar no mérito da Amy. E ela foi foda. Exatamente do jeito que eu imaginava que seria. Pouco à vontade com gente demais, insegura e procurando a cumplicidade da banda ao final de cada música. Com os olhos cheios de lágrimas em alguns momentos. E eu em quase todos.
Tinha horas em que eu me perguntava: isso é playback? Lógico que não era. Toda aquela voz sai mesmo daquela caixa torácica minúscula, de uma criaturinha frágil e, agora, exageradamente peituda. Exagerada, não. Intensa é a palavra pra falar dela. O que fazia parecer playback é um show daquele tipo acontecer no lugar errado. Amy merecia um ambiente menor, com um som à altura da ótima banda que ela trouxe e onde ela pudesse se sentir mais confortável do que no Anhembi bombando. E, de preferência, com gente mais bacana assistindo.
Não páro de ler e ouvir gente falando mal do show. E só posso lamentar que estas pessoas não tenham entendido nada. Ela é antisocial, não gosta de multidão nem fica bajulando platéia. Pelo contrário: se um fã chegar querendo abraçar e ficar perto demais ela retribui com um sonoro soco na cara. O que as pessoas queriam num show da Amy? Um microfoninho apontado pra platéia e um “agora é com vocês” em português decorado? Erraram de show, meus amores. E agora vão ficar descendo a lenha numa das poucas pessoas autênticas que a gente teve a oportunidade de ver ao vivo.
Eu, que só gosto de música de gente morta ou que já está no bico do corvo, fico realmente animada por ser contemporânea de alguém como ela. Que erra, se expõe, se droga, cai, levanta, aumenta o peito, perde o dente. E canta muito. Ela é um pontinho topetudo no meio de um mundo de celebridades politicamente corretas, que se casam virgens, são vegetarianas e contam tudo o que fazem no twitter.
Mil vezes ir num show de alguém que você nem sabe se vai ter condições de chegar, a ouvir as súplicas de um cantor de rock’n roll para ajudar os golfinhos e as baleias. Se eu quisesse ouvir falar de golfinho, ia numa palestra do projeto Tamar, meu amigo. Canta aí e não enche o saco.
Mas canta com a alma. Como a Amy.

3 de jan. de 2011

Feliz Ano Novo


Adoro a sensação de renovação do Ano Novo. O ritual que diz, mesmo que inconscientemente, que as coisas podem mudar, melhorar e começar de novo de outro jeito.
O que eu não curto é o desespero do Reveillon. Já reparou?
Tudo começa com o fato de que você precisa estar em algum lugar especial, obrigatoriamente com praia e amigos de branco, felizes e radiantes. Sim, gente que tem problemas e fica borocoxô não pode estar na nossa turma. Esta é a parte do desespero que dura mais, porque tem neguinho noiado em pleno julho, agosto (já falei sobre isso aqui e simplesmente não consigo entender). Aí vem todo o resto.
Vai viajar? Prepare-se para pegar o maior engarrafamento da sua vida. Vai de avião? Ah, coitada. Vai ter greve, você corre o risco de passar a virada no aeroporto, brindando com o cara do check-in.
Então você respira fundo, faz sua malinha, vai e dá tudo certo. Não para todo mundo, eu sei, mas tudo o que dá errado também é culpa do desespero.
Chega a grande noite que você está planejando e já pagou há 6 meses. Que roupa eu vou usar, que cor vai ser a calcinha, o que eu tenho que fazer na hora da virada, qual é o orixá que rege o ano, tenho que comemorar duas vezes, no horário de verão e no antigo? Esse ano que passou foi uma merda (será?) e o próximo tem que ser maravilhoso. Todos os meus problemas precisam se resolver, já está resolvido. Vou para a academia, mas enquanto não chega a meia-noite, enche a minha taça e me dá mais um canapé desse, por favor.
Aí você precisa voltar. Chega no aeroporto e a moça avisa que o avião está em solo e dentro de 15 minutos vai começar o embarque. Então as pessoas correm e se acotovelam para ficar 15 minutos em pé, numa fila, para embarcar primeiro. Não importa que meu assento tem número marcado. Eu quero entrar primeiro. E quando o avião aterrissar e avisarem para todos permanecerem sentados, com o cinto de segurança e o celular desligado, eu também não vou deixar barato. Vou tirar o cinto primeiro, catar minhas bagagens nem que elas batam na cabeça da pessoa sentada na minha frente. Vou ficar em pé, com o pescoço torto, por mais 15 minutos ou pelo tempo que for necessário, mas eu quero sair primeiro do avião. Essa senhora que nem pense em se meter na minha frente. E tem mais: quero ver quem vai me impedir de ligar o celular aqui e agora. Liguei. Ouviu meu ringtone? Eu sei que falaram que não podia mas eu sou assim e ligo mesmo.
Agora eu quero a minha mala. Eu sei que ainda não tem nenhuma na esteira mas eu vou ficar bem na frente, esperando a minha sair. Porque eu quero pegar primeiro e sair logo e pegar o táxi antes de todo mundo, que eu não sou palhaço.

Só nos resta desejar que neste Ano Novo, as coisas mudem, melhorem e comecem de outro jeito. Tenha um lindo 2011.