30 de mar. de 2011

Gaúcho sem rodeios


Anita pegou o gosto pelas viagens depois de ficar viúva.
Antes também era bom viajar mas agora ela podia escolher os lugares que mais gostava, na companhia das amigas. E o número de amigas sempre aumentava. Como a mala que sempre volta mais cheia do que foi.
Anita é gaúcha e tem amigas, viúvas e serelepes como ela, de São Paulo, Minas, Goiás, Bahia.
Estavam juntas em Buenos Aires, quando combinaram de visitar a fazenda de Anita no Rio Grande do Sul, antes de voltar para suas cidades. E foram mesmo.
A fazenda era pouco frequentada porque os filhos de Anita não moravam mais em Porto Alegre. Ela ia menos do que gostaria. E mostrar tudo para as amigas foi um grande prazer e uma grande farra.
Num domingo, acordaram cedo, tomaram um café da manhã reforçado e Anita pediu a Floriano – o peão – que preparasse os cavalos para elas darem um passeio.
Em menos de meia hora, os cavalos estavam batendo os cascos campo afora, com Anita, as amigas e Floriano, que decidiu acompanhá-las. Andaram por algum tempo, ficaram encantadas com a paisagem do pampa gaúcho. Riam alto, lembravam passagens das viagens. Floriano ficou alguns metros atrás para que elas pudessem conversar à vontade. Uma das amigas de Anita também foi ficando para trás e, quando o grupo percebeu, Floriano e a amiga tinham desaparecido.
Elas já ficaram imaginando coisas. Afinal, Floriano era um peão. E peão é um fetiche.

Mais tarde, quando todas já estavam de volta, a amiga desgarrada aparece com um sorriso incomum. As outras perguntaram:
- O que aconteceu? Onde vocês se meteram?
Ela respondeu:
- O Floriano me fez um sinal e entrou na mata. Eu fui atrás. Andamos até uma clareira, ele desceu do cavalo, colocou uma pele de ovelha no chão e me disse, com aquele sotaque gaúcho: “Apeia, te pela e te deita”.
As amigas perguntaram:
- E o que você fez?
Ela respondeu, imitando o sotaque:
- Apeei, me pelei e me deitei.


Mais uma história real, com nomes fictícios.
*Apeia deveria ser uma conjugação do verbo apear. O certo seria dizer apea. Mas foi assim, com i no meio, que o peão falou e é assim que é mais legal de imaginar a cena.

26 de mar. de 2011

Um cocozinho. De pato.


Foi o que eu achei do filme Cisne Negro. E a culpa é de quem fica se desmanchando em elogios e elevando a expectativa da gente a proporções que o filme não tem como bancar. Não vou ficar achando que tem alguma coisa errada comigo por não gostar.
Sensação de já vi isso antes. Quando começou, já sabia o que ia acontecer no final. O lado negro da mina é coisa de adolescente. E, para piorar, eu não sou homem pra ficar pagando pau para a Nat, que é linda (muito). Só porque mistura terror (terror?) com balé eu tenho que achar inovador? Achei bonito como um patinho amarelo. De 0 a 100, nota 22 para ele.

7 de mar. de 2011

Ah, o Carnaval


Ouvindo é mais engraçado do que lendo.
Carnaval no Rio. Não este ano, lógico, porque se eu estivesse lá agora, não estaria escrevendo. Eu, uma amiga e mais alguém que eu simplesmente esqueci quem é, estávamos sentadas numa cadeirinha em Ipanema enquanto o bloco Simpatia é Quase Amor passava.
Amo Carnaval no Rio, mas a falta de infra e de educação faz com que as pessoas façam xixi em qualquer (eu disse qualquer) lugar e isso é muito triste de observar. A gente comentava justamente sobre isso quando escutamos uma voz de mulher, mas uma voz de velha, castigada pelo cigarro e pela birita, uma coisa meio Nair Bello, meio Aracy de Almeida. A tal voz, que eu imitaria se estivesse contando para você, disse:
- Será que eu sou mulher para encarar esse mar?
Eu me virei para ver quem era e me deparo com uma menina de no máximo 10 anos (chutaria uns 8), magrinha, franzina, mas dona daquele vozeirão maltratado pela vida. Ela continuou falando:
- To aperrrtada pra fazer xixi, ae... Mas esse marrr deve tá um gelo.
Lógico que ela era mulher para isso e encarou. Entrou no mar, esvaziou a bexiga e ainda fez muito. Porque os homens simplesmente colocavam o pinto para fora e faziam tudo quase na cara da gente.
Então a menina sai do mar e vem na nossa direção. Por alguma razão ela olha para mim e pergunta com aquela voz de deixar Maria Zilda no chinelo:
- Onde será que eu posso fazer cocô, ae?
Eu respondi:
- Olha, de preferência num lugar bem longe da gente.
E ela saiu andando. Com convicção. E eu acompanhando com os olhos, sem acreditar: a mina vai fazer cocô na areia. Nunca mais tiro as minhas Havaianas em Ipanema. Não estou acreditando. Ela está cavocando um buraquinho. Ela ficou de cócoras, puxou o short para o lado. A mina vai mandar um number two no meio de todo mundo. G-zuis!
Então ela começa a voltar na nossa direção. E eu pensando: o que vai ser agora? O que mais essa pequena velha quer de mim? E ela queria mesmo. Chegou bem perto da gente e tascou a cereja do bolo:
- Pô, tô tentando fazer cocô mas com vocês olhando eu não consigo, ae!!
Juro que aconteceu.