Outro dia fiquei sabendo que a personagem da Adriana Esteves na novela Babilônia tem uma fixação pela personagem da Glória Pires. A ponto de fazer uma transformação para ficar fisicamente parecida com ela.
Desde então fico pensando no tamanho do desafio na carreira de Adriana. Porque parecer a Glória Pires pressupõe que você tenha que tentar ter O Cabelo Da Glória Pires. Atente-se para o uso do verbo tentar.
O Cabelo Da Glória Pires é uma instituição, uma categoria que está no topo da cadeia alimentar dos cabelos, o máximo que um ser vivo pode alcançar em termos capilares. Desde que ela apareceu em Dancin’ Days, em 1978, aquele cabelo passou a ser uma referência, obviamente inalcançável, na minha cabeça. A não ser que você seja filha da Glória Pires ou tenha uma árvore genealógica muito semelhante, lamento, mas aquele cabelo preto, liso, brilhante e pesado não vai acontecer para você. Nem para a Adriana Esteves, nem se ela contar com a ajuda dos cabeleireiros mais fantásticos da Via Láctea.
Se eu fosse roteirista desta novela, pensaria num outro tipo de fixação e pouparia a excelente atriz Adriana Esteves de tentar fazer um corte de cabelo “igual” ao Da Glória Pires e ficar com aquele capacetão com que ela se encontra.
Marion Cotillard teve facilidade para se caracterizar e parecer Édith Piaf mesmo sendo 20cm mais alta. Jamie Foxx literalmente se transformou no Ray Charles. Não vamos tão longe: Daniel de Oliveira chegou a ficar estranho de tão parecido com Cazuza. Mas nenhuma atriz que me ocorra vai conseguir interpretar O Cabelo Da Glória Pires sem parecer um Playmobil. Vamos apenas aceitar os fatos.
Eu gosto da palavra bacanérrimo desde a primeira vez que ouvi. Desde então, uso mesmo. Sinceramente, este foi o único critério para escolher o nome do meu blog. Gosto de escrever mas tenho vergonha de mostrar o que escrevo. Então decidi ficar escondida atrás de uma URL simpática. E esperar que alguma coisa que eu escreva aqui vire spam e chegue um dia por e-mail, como se fosse um texto do Luiz Fernando Veríssimo. Ui, seria a glória.
5 de jul. de 2015
6 de mai. de 2015
Trabalho dos sonhos
Cheguei ao consultório do cirurgião plástico em cima da hora. Notei que a sala de espera tinha 6 sofás. Muito, se comparados às 2 ou 3 poltroninhas que a gente normalmente vê em outros médicos. Mas antes de começar a refletir sobre a crescente indústria da cirurgia plástica e a obsessão das pessoas pela eterna juventude, fui chamada pela secretária. Era minha vez, sem atrasos. Profissa.
Fui recebida por um sorriso branquíssimo que quase ofuscou a inegável simpatia do cirurgião. Mas logo reparei que, enquanto falava comigo, ele olhava fixamente para um ponto. Ou melhor: para a ponta do meu nariz.
Era como se, no meio do meu rosto, houvesse uma verruga gigante, preta, volumosa, peluda e falante. E digo isso porque quando uma dessas aparece na minha frente, eu mesma não consigo desviar os olhos por nada. Eu tentava mudar o foco, contava que a Fulana me indicou mas tenho certeza de que ele nem ouvia. Estava hipnotizado pelo meu nariz exótico e avantajado, fazia traços pontilhados e imaginários sobre ele, queria mudar tudo, que eu sei.
Nem vem que não tem. Como é que eu poderia abrir mão de uma parte tão grande do meu rosto? Eu simplesmente não seria eu sem o nariz fino, pontudo e com calombinho. Não nasci com ele exatamente assim mas, desde que estética começou a ter importância na minha vida, tive que aceitá-lo. Entender que ele me dá personalidade. E que na falta daquela beleza, beleza, beleeeeeza, personalidade é importante para dedéu. Depois de tudo o que eu passei para aceitar minha napa assim como ela é, o cara acha que vou me acovardar e resolver tudo com umas marteladas e passadas de bisturi? Never.
Tratei de explicar logo e sem dó que estava ali para reconstruir o ló-bu-lo-da-o-re-lha, que se rompeu pelo excesso de brincos grandes e pesados que usei a vida toda. Mas de grande e pesado ele só via meu nariz. Claro que não ousou sugerir que eu me detivesse no ponto equidistante entre os lóbulos das duas orelhas, que isso seria uma indelicadeza de se fazer. Mas sei que ficou decepcionado quando viu meu lóbulo tão pequeno, com um rasgo insignificante diante de todo o universo nasal a ser explorado.
A anestesia é local, né? Vai que eu apago Rossy de Palma e acordo Danielle Winits.
Enfim, “cirurgia” feita, trabalho perfeito, lóbulo reconstruído, efeito da anestesia passou e nem senti dor. Acho até que vou dormir bem. Já ele, coitado, vai sonhar.
*Lá em cima, Desenho da cabeça humana by Leonardo da Vinci.
Fui recebida por um sorriso branquíssimo que quase ofuscou a inegável simpatia do cirurgião. Mas logo reparei que, enquanto falava comigo, ele olhava fixamente para um ponto. Ou melhor: para a ponta do meu nariz.
Era como se, no meio do meu rosto, houvesse uma verruga gigante, preta, volumosa, peluda e falante. E digo isso porque quando uma dessas aparece na minha frente, eu mesma não consigo desviar os olhos por nada. Eu tentava mudar o foco, contava que a Fulana me indicou mas tenho certeza de que ele nem ouvia. Estava hipnotizado pelo meu nariz exótico e avantajado, fazia traços pontilhados e imaginários sobre ele, queria mudar tudo, que eu sei.
Nem vem que não tem. Como é que eu poderia abrir mão de uma parte tão grande do meu rosto? Eu simplesmente não seria eu sem o nariz fino, pontudo e com calombinho. Não nasci com ele exatamente assim mas, desde que estética começou a ter importância na minha vida, tive que aceitá-lo. Entender que ele me dá personalidade. E que na falta daquela beleza, beleza, beleeeeeza, personalidade é importante para dedéu. Depois de tudo o que eu passei para aceitar minha napa assim como ela é, o cara acha que vou me acovardar e resolver tudo com umas marteladas e passadas de bisturi? Never.
Tratei de explicar logo e sem dó que estava ali para reconstruir o ló-bu-lo-da-o-re-lha, que se rompeu pelo excesso de brincos grandes e pesados que usei a vida toda. Mas de grande e pesado ele só via meu nariz. Claro que não ousou sugerir que eu me detivesse no ponto equidistante entre os lóbulos das duas orelhas, que isso seria uma indelicadeza de se fazer. Mas sei que ficou decepcionado quando viu meu lóbulo tão pequeno, com um rasgo insignificante diante de todo o universo nasal a ser explorado.
A anestesia é local, né? Vai que eu apago Rossy de Palma e acordo Danielle Winits.
Enfim, “cirurgia” feita, trabalho perfeito, lóbulo reconstruído, efeito da anestesia passou e nem senti dor. Acho até que vou dormir bem. Já ele, coitado, vai sonhar.
*Lá em cima, Desenho da cabeça humana by Leonardo da Vinci.
6 de mar. de 2015
Leo
Com 16 anos, tomei vergonha na cara e decidi começar a trabalhar. Achava o fim ter que pedir dinheiro até para comprar uma Capricho. Meu primeiro emprego foi numa locadora de vídeo (nem existia DVD nessa época, mas abafa) e o nome da minha primeira chefe era Leoni. Por razões óbvias, ela preferia ser chamada de Leo. Gente boa demais.
Nos últimos 6 anos, trabalhei para outra Leo. Uma agência encantadora, humana, guiada pela filosofia do cara boa praça aí da foto: Mr. Leo Burnett.
Cheguei em 2008, convidada pelo meu ídolo e hoje também grande amigo, Ruy Lindenberg. Tive certeza de que nunca tinha visto uma agência assim.
Se não fosse a Leo eu jamais teria conhecido pessoas espetaculares como o Osvaldinho, a Ritinha, o Javi, o Celsum e o Wando. Jamais teria falado tanto portuñol, comido a paella da Fê Moura nem sambado no elevador com a Stella e a Carlotinha. Não teria feito tantos amigos queridos nem cantado tanto em karaokês. Não teria comprado uma casa nem superado a síndrome do pânico.
Sou feliz e muito grata. Por tudo.
De 2008 para cá eu mudei muito e a Leo também. Não tenho a menor dúvida de que a hora certa de sair é antes que uma de nós fique completamente irreconhecível.
Nos últimos 6 anos, trabalhei para outra Leo. Uma agência encantadora, humana, guiada pela filosofia do cara boa praça aí da foto: Mr. Leo Burnett.
Cheguei em 2008, convidada pelo meu ídolo e hoje também grande amigo, Ruy Lindenberg. Tive certeza de que nunca tinha visto uma agência assim.
Se não fosse a Leo eu jamais teria conhecido pessoas espetaculares como o Osvaldinho, a Ritinha, o Javi, o Celsum e o Wando. Jamais teria falado tanto portuñol, comido a paella da Fê Moura nem sambado no elevador com a Stella e a Carlotinha. Não teria feito tantos amigos queridos nem cantado tanto em karaokês. Não teria comprado uma casa nem superado a síndrome do pânico.
Sou feliz e muito grata. Por tudo.
De 2008 para cá eu mudei muito e a Leo também. Não tenho a menor dúvida de que a hora certa de sair é antes que uma de nós fique completamente irreconhecível.
14 de jan. de 2015
Feliz 2015 para você também
Saí de São Paulo para as festas de final de ano. Dia 4 de janeiro, voltei cabisbaixa como sempre volto de todas as viagens que faço. Quando coloco a chave na fechadura de casa, percebo que algo está bem errado. A porta não estava trancada. Fui entrando, com o pé esquerdo, é claro, percebi algumas poucas coisas fora do lugar e tive certeza: assaltaram minha casota.
Vi que estava tudo relativamente em ordem e só então comecei a pensar: será que os meliantes levaram as coisas de valor?
Corri para o lavabo. O quadro com a calcinha autografada pelo Wando estava lá. Ufa!
Passado este susto maior, pensei nos meus robôs japoneses e senti um segundo calafrio. Felizmente todos estavam reluzentes na cristaleira. O castiçal mexicano inteirinho, com todos os passarinhos, frutinhas e flores. Ai, meus diários de infância... Intactos. Vinis, gibis, CDs, livros, DVDs, tudo lá. Os filhos da puta não teriam a ousadia de levar minha coleção de bolachas de cerveja meticulosamente trazidas de cada um dos pubs de Londres e Dublin. Não tiveram, eba.
É uma sensação muito esquisita. Eu lembrava das coisas à medida que as horas passavam e ia correndo ver se estavam nos seus lugares: a coleção de bonequinhos do Chaves e a dos Simpsons, o abridor de garrafa de lutador de lucha libre, o peixe que canta Don’t be cruel, o Superman com capa de tecido, isso não, por favor, por favor... Ai, que bom, tá lá.
Comecei 2015 com a casa assaltada mas não levaram nada de valor.
Só o computador e as jóias.
Vi que estava tudo relativamente em ordem e só então comecei a pensar: será que os meliantes levaram as coisas de valor?
Corri para o lavabo. O quadro com a calcinha autografada pelo Wando estava lá. Ufa!
Passado este susto maior, pensei nos meus robôs japoneses e senti um segundo calafrio. Felizmente todos estavam reluzentes na cristaleira. O castiçal mexicano inteirinho, com todos os passarinhos, frutinhas e flores. Ai, meus diários de infância... Intactos. Vinis, gibis, CDs, livros, DVDs, tudo lá. Os filhos da puta não teriam a ousadia de levar minha coleção de bolachas de cerveja meticulosamente trazidas de cada um dos pubs de Londres e Dublin. Não tiveram, eba.
É uma sensação muito esquisita. Eu lembrava das coisas à medida que as horas passavam e ia correndo ver se estavam nos seus lugares: a coleção de bonequinhos do Chaves e a dos Simpsons, o abridor de garrafa de lutador de lucha libre, o peixe que canta Don’t be cruel, o Superman com capa de tecido, isso não, por favor, por favor... Ai, que bom, tá lá.
Comecei 2015 com a casa assaltada mas não levaram nada de valor.
Só o computador e as jóias.
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