29 de ago. de 2006

Levanta a cabeça e assume logo

Eu tinha menos de 15 anos quando vi um travesti pela primeira vez.
A Shana era praticamente uma atração turística na cidadezinha que eu morava. E quando fiquei frente a frente com ela, pelo espelho do salão de cabeleireiro, percebi que ela me olhou e traçou imediatamente o meu perfil. Impressionante como entendidos entendem mesmo. Ela deu um sorrisinho irônico de quem já tinha sacado todo o drama e, assim que a minha mãe se afastou, falou: acho melhor você assumir logo.
Eu fiquei muito passada. Como assim? Aquela pessoa mal me conhecia e já tinha percebido que eu tinha questões para assumir. Fiquei um pouco nervosa com o jeito direto dela falar. Suava frio. E ela continuou: você tem que se aceitar do jeito que é. E as pessoas vão acabar te aceitando também. Olha pra mim. Eu sou um bom exemplo disso.
Aquilo era o maior clichê do mundo, fiquei puta. Olhei para aqueles peitos fake e disse: peraí, o teu caso é muito diferente do meu. Não dá para comparar. E ela: claro que dá. A diferença é que eu tenho muito menos caraminholas na cabeça do que tu. Mas sei bem o que tu estás passando. O problema com a aceitação é o mesmo. Olha para ti e assume, boba. Teus amigos de verdade vão se acostumar com a idéia e vão gostar de ti assim. Leva um tempinho, mas tua família vai até gostar. Tu vais ser muito mais feliz sendo do jeito que és. Vai por mim...
Eu só pensava nas minhas amigas. O que elas pensariam? Será que percebiam como eu olhava para elas querendo ser igual mas não conseguindo. Usando artifícios, me esforçando pra parecer com elas, mas não adiantava. Será que elas notavam que eu era diferente? Se ao menos tivesse alguém como eu na turma. Então eu pedi para ela parar com aquele assunto, que minha mãe estava chegando. Eu precisava resolver aquilo na minha cabeça para depois poder mostrar para todo mundo. E como era difícil. Nos dias chuvosos e cinzas eu queria morrer. Não tinha vontade de sair de casa. Eu não gostava da transformação que estava vendo. Então decidi seguir o conselho e a influência da especialista no assunto. E percebi que quanto mais eu assumia, quanto mais deixava aquilo crescer, mais as pessoas me olhavam. E não era um olhar de reprovação. Eu me sentia mais bonita e mais atraente. Mais feliz.
Mas posso falar: é uma barra pesadíssima assumir os cabelos cacheados quando todo mundo faz chapinha.

11 comentários:

Marilu Rodrigues disse...

Hahahahahhaa. Vem logo! To te esperando com uma garrafa de vinho portuga na mão!! 36º hoje.

Anônimo disse...

uahahahahahhaha amEEeicaralho

pq vc demorou tanto em criar um blog???

qdo a gente vai se ver?????

setembrochove???

Anônimo disse...

MULHERRRRRR Me fizeste lembrar de uma pessoa que estava a mais de uma década esquecida na minha memória - a SHANA!! Pensa que minha mãe trabalhava junto com ela, imagina os conselhos que EU ouvia!! hahhah
Muito bom! Beijosss

Anônimo disse...

"Oh Shana nas alturas!" Arrraasa! Beibe, dava meu dedinho pra ver a chapinha gritando!
bj

Anônimo disse...

Que susto tu me deu guria!
Teu irmão

Carlos Wilker disse...

é foda.
mas vale a pena.

Anônimo disse...

Adorei, flor!

Anônimo disse...

Carái véi! Parou pq?
bj
C!auber

Cris Venite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cris Venite disse...

Nossaaaa, vou ter que concordar com a Jáci pra dizer a mesma coisa: tu me fez lembrar da Shana, uma pessoa de quem nem lembrava mais. huahauhaua!!! Passou um filme na minha cabeça. Muito bom. E excelente teu blog.
Beijos.

Anônimo disse...

Por que nao:)