Eu gosto da palavra bacanérrimo desde a primeira vez que ouvi. Desde então, uso mesmo. Sinceramente, este foi o único critério para escolher o nome do meu blog. Gosto de escrever mas tenho vergonha de mostrar o que escrevo. Então decidi ficar escondida atrás de uma URL simpática. E esperar que alguma coisa que eu escreva aqui vire spam e chegue um dia por e-mail, como se fosse um texto do Luiz Fernando Veríssimo. Ui, seria a glória.
14 de abr. de 2009
A Páscoa dos Schmidt
Desde que cresci e não fui mais obrigada a ir à igreja e beijar a estátua de Jesus morto (trauma nº 7 da vida), passei a achar que Páscoa era só um feriadão em que a gente viaja, come camarão até morrer e ganha chocolate. Isso mudou quando eu soube como eles comemoram na casa do Beto. Aquilo sim é que é Páscoa.
Beto é meu amigo de Porto Alegre. Ele faz parte das pessoas mais legais do mundo nascidas em Porto Alegre: as que cresceram no bairro de Ipanema. Páscoa na casa dos Schmidt não é brincadeira para criancinhas que acreditam em coelhinhos. Exige toda uma logística, preparo físico e nervos de aço. Eles levam muito a sério a tradição de esconder os ninhos. Fazem isso com dedicação e maestria, a ponto dos chocolates correrem o risco de não serem encontrados antes do prazo de validade vencer. A não ser que o presenteado desista, diga que não quer mais brincar e quer os chocolates ainda no mês de abril. Mas isso, para os Schmidt, seria uma tremenda demonstração de fraqueza de caráter. Lutar sempre, retroceder nunca, render-se jamais.
Há alguns anos, a TV começou a apresentar problemas de funcionamento exatamente na época da Páscoa. Tremendo vacilo do irmão do Beto, que esperou todo mundo sair logo depois do carnaval (40 dias antes!!!), desparafusou a TV de 29 polegadas e escondeu os chocolates lá dentro. Infelizmente, neste caso, o aparelho denunciou o amadorismo na escolha do esconderijo.
O importante é não deixar vestígios. Foi nisso que o próprio Beto pensou quando escondeu o ninho da senhora sua mãe enterrado no quintal, dentro de uma caixa e vários sacos de plástico. Depois de abrir e fechar um buraco de 7 palmos, ele moqueou a vegetação e a terra para que ninguém suspeitasse que havia chocolate por ali. Um cadáver, talvez. Chocolate, nunca.
A mãe do Beto se inspirou no artifício de embrulhar tudo com várias camadas de plástico e, no ano seguinte, pensou no esconderijo quase perfeito. Pelo menos o que levou mais tempo para ser desvendado. Subiu no telhado e colocou o ninho submerso dentro da caixa d’água da casa. Em outro ano eles aproveitaram o fato do inverno ter chegado mais cedo e já terem providenciado uma pilha de lenha quase da altura da casa (que o IBAMA não saiba, mas todo mundo tem uma pilha de lenha dessas lá no RS) e esconderam o ninho lá no meio.
Ontem eu perguntei para o Beto como tinha sido a Páscoa deste ano. A resposta foi uma comprovação de que a tradição vai continuar por gerações. “Foi legal. Sacaneei o meu filho. Escondi o ninho dele em cima de um muro de mais ou menos 2 metros. Bem alto para um moleque de 4 anos”.
Feliz Páscoa para você também.
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9 comentários:
hahahahah que malvados.....
A gente esconde nos armários da casa ou atrás do sofá e usamos ainda os cachorros para ajudar... Imagina só se eu fosse da família Schmidt? Ia morrer sem comer um ovo de páscoa...
Adorei!
beijos
Re
PS. Adorei a foto! também.
Em ano de crise eles podem não comprar ovo de páscoa nenhum e depois dizer que ninguém encontrou.
Que esconderijos são esses??? Ri muito, Flá!!!!
rsrsrsrsrsrsrs
isso é inacreditável. só podia ser seu amigo.
bjbj
Gi
Genial!
Nunca imaginei que o comportamento singular da minha família pudesse servir de inspiração para um texto tão bom!
bj,
Beto, o Schmidt
Amiga,
falando em tradições, até ovinhos pintados recheados de Carrapinhada eu fiz esse ano!
O coelho passou gordito pela tua casa? Espero que sim e além dos doces, carregado de saúde e coisas boas!
Saudades de tuuuu
Beijos
Adivinha quem achou o ovo em cima do muro alto? Dãããã.
Menina, essas suas historias são impagáveis. Parabéns.
Fantástico. Amei.
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