Eu gosto da palavra bacanérrimo desde a primeira vez que ouvi. Desde então, uso mesmo. Sinceramente, este foi o único critério para escolher o nome do meu blog. Gosto de escrever mas tenho vergonha de mostrar o que escrevo. Então decidi ficar escondida atrás de uma URL simpática. E esperar que alguma coisa que eu escreva aqui vire spam e chegue um dia por e-mail, como se fosse um texto do Luiz Fernando Veríssimo. Ui, seria a glória.
15 de ago. de 2010
Pedro e Wilma
Minha avó paterna morreu quando eu tinha 8 anos. Tenho poucas mas muito nítidas lembranças dela, da casa em que ela morava, do quarto, do cheiro, dos perfumes em cima da penteadeira. Mas acho que a lembrança mais forte que ela deixou foi o que a ausência dela causou no meu avô. Lembro direitinho dele chorando baixinho o mais triste dos choros. O de quem perdeu tudo o que tinha e o que mais importava. Essa dor foi tão forte que ele desistiu de viver. Nunca mais leu um jornal, nem viu TV, nem nada. Ficou completamente alienado do que acontecia no mundo. Quando perguntavam como ele estava, respondia: estou esperando que me levem. E era pura verdade.
Conversar com ele passou a ser uma experiência curiosa. Pense num senhor com mais de 80 anos, completamente lúcido, mas que não sabia nem o nome da moeda corrente no Brasil. Cruzado, cruzado novo, real, para ele pouco importava. Ele jogou a toalha, desistiu mesmo. Na época, eu achava aquilo meio esquisito, não entendia, achava até uma certa covardia da parte dele se entregar daquela forma. Hoje já fico pensando que pelo sofrimento dele dá para mensurar o tamanho do amor que ele sentiu e o quanto ela foi importante. Que mulher foi essa que deixou um vazio tão enorme no coração de um homem? Acho bonito. Deve ser daí que herdei essa mania de ter sentimentos sempre tão profundos e tão mexicanos.
A história acabou de uma maneira digna de tanto amor: na noite em que se completariam 10 anos da morte dela, mais ou menos na mesma hora em que ela se foi, tarde da noite, meu avô caiu da cama. Era velhinho, tinha osteoporose e fraturou o fêmur. Foi levado ao hospital mas um coágulo se formou na fratura, acabou indo para o cérebro e causando um derrame. No dia seguinte, a espera dele acabou. Triste para quem ficou, mas ele esperou até demais.
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12 comentários:
Bela história, Flávia. Daria um bom filme ou livro, ou os dois.
bonito de arrepiar.
Que lindo, Flávia! E tudo isso só aconteceu porque existiu amor.
Lindo amar assim...
beijos
Emocionei. Lindo! beijos!
q babado. bejo
Bonito texto!
Fla, é mto parecida com a história dos meu avôs, mas no meu caso meu avô foi primeiro. Ela ficou mais 7 anos com a gente, mas de forma protocolar. E tbém não sabia reconhecer o dinheiro!! Ele fazia tudo por e para ela.
bjs
Bia
Arrepio e marejo.
ai ai, vou ler o resto do blog em casa que já estou fungando na frente do computador!
Chorei... linda história.
Bjos!!
Lindo, muito lindo!
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