7 de ago. de 2006

Orgulho Hetero

Depois de ver quase 2 milhões de pessoas na Parada do Orgulho Gay em São Paulo, muita gente aproveitou para manifestar simpatia, admiração e apoio incondicional à causa. Eu sou uma dessas pessoas. Tanto que a Parada Gay, na minha opinião, está prestes a se tornar um evento meramente ilustrativo, como o Dia Internacional da Mulher. Nem nós mulheres e nem os gays precisam provar mais nada para ninguém. Se ainda tem gente que pensa o contrário, eles é quem são (ou deveriam ser) minoria.
Eu iria mais longe: os gays estão tão bem resolvidos que nós é que deveríamos começar a resgatar o nosso Orgulho Hetero.
Sim, porque quando alguém diz que é gay, algumas coisas como coragem, bom gosto musical, bom nível intelectual, sensibilidade, talento, bons cortes de cabelos e guarda-roupas impecáveis já estão implícitos. Sem falar nos corpinhos malhados, cada vez mais explícitos, que eles podem.
A nós, heteros, resta a sorte de ter um amigo gay por perto para dar umas dicas de como agir na hora da conquista, como enfrentar melhor as questões familiares e como saber que não se deve, em hipótese nenhuma, combinar o cinto com o sapato.
Em algumas situações ou lugares, é ainda mais difícil bater no peito e dizer para o mundo inteiro ouvir: EU SOU HETERO. Experimente entrar de sopetão no cinema do shopping Frei Caneca ou no Spot, por exemplo. Definitivamente as pessoas olham como se você não fosse da turma. E quando você fica na frente da tenda do Skol Beats, com camisa? É tanta cotovelada que você deveria ir de colete blindado.
No mercado de trabalho é a mesma coisa. Bem que a gente queria competir de igual para igual. Mas por que só os gays viram bons cabeleireiros, estilistas, padres, gerentes de marketing e atores iniciantes na Globo?
É nessas horas que a gente tem que erguer a cabeça e enfrentar mesmo. Ter coragem de assumir o que somos. Alguém tem que ficar no armário. É tão bom e escurinho aqui dentro.
Vamos começar a pensar na nossa própria parada. A Parada do Orgulho Hetero. Puxe pela memória: você deve ter uns 5 ou 6 amigos hetero espalhados por aí. Servem simpatizantes. Pois convoque-os. Vamos mostrar para a sociedade que a gente é feliz e bem resolvido sendo hetero mesmo. Que as nossas preferências sexuais não têm nada a ver com a nossa essência, com o nosso bom gosto e o nosso caráter. Dá para acreditar que em pleno 2006, tem gente que pensa assim?
Claro que a Parada do Orgulho Hetero não vai levar 2 milhões para a Paulista, que isso seria muita pretensão da nossa parte. Mas umas quinhentinhas na Berrini, acho que rola.
Vamos ser realistas: nosso movimento ainda é uma coisa pequena.
Coisa para um trio elétrico, no máximo. Tocando apenas sucessos de cantores heteros da nossa MPB. Nem que a gente quisesse teria música suficiente para dois trios.
Ah, você não vai poder ir? Tem que acordar cedo, almoçar na casa da sogra, tem que ir ao Ibirapuera caminhar? Tem que ir ao shopping, ao supermercado. Tá vendo? Depois não sabe porque a gente fica com fama de chato.

(Queria que este texto fosse uma homenagem a todos os meus amigos gays. Escrevi umas duas semanas antes da Parada, mas só agora tive coragem de divulgar. Coisa de hetero.)

9 comentários:

Anônimo disse...

E para quem é religioso como eu e anda com aquelas pecinhas circulares do AGNUS DEI sugiro a criação do movimento AGNUS COMI; vâmo assumir, pessoal

Anônimo disse...

amei

lov u

Anônimo disse...

Flavinha,

Adorei o texto hetero. Ser hetero hoje é quase tão minoria quanto ser paulistano na propaganda. rsrs

Beijocas, saudadocas.

Anônimo disse...

FLAVINHA, PELO MENOS ASSIM FICO EM CONTATO COM VC E MORRO DE RIR DE SUAS HISTÓRIAS E SUA VISÃO DE MUNDO TÃO PECULIAR. ADOREI ESSE E TODOS OS DEMAIS TEXTOS.
BRILHE MTO, GATA!!! SOU SUA FÃ DESDE SEMPRE, FABÁ

Anônimo disse...

E para quem é religioso como eu e anda com aquelas pecinhas circulares do AGNUS DEI sugiro a criação do movimento AGNUS COMI; vâmo assumir, pessoal

Anônimo disse...

mas está ótima essa também...e parabéns por divulgar,mesmo depois de semanas,nada fácil ser hetero em pleno 2006,é igual ter pai e mãe que nunca separaram,irmãos filhos dos mesmos pais,gera "trauma",rs...bj

Laila Castro disse...

"mas umas quinhentinhas na berrini, acho que rola" hahahahahahahaha.

Anônimo disse...

Vc escreve bem. Mas achei esse texto tão pedante e estereotipado...
Tudo bem, tanto você como eu vivemos em um mundo heteronormativo, machista e homofóbico.
Se eu fosse um de seus amigos gays eu ia me sentir desomenageado.
Beijos e continue a escrever.

Fábio Renó disse...

Apoiado! Pode contar comigo.
Embora eu ache q 500 pessoas seja muita pretensão ainda.

As vezes me sinto como neste tirinha do Adão.

http://adao.blog.uol.com.br/tiradasemana/arch2006-09-24_2006-09-30.html