30 de ago. de 2008

Foi ruim para você também?

Conheço um monte de gente que brilha nas salas de bate-papo da internet. Já arranjou namorado, marcou blind date, curte sexo virtual, liga a camerinha e manda ver. Eu admiro mas não encaro. Confesso que tenho preconceito. Acho meio deprê e não acredito que vou gostar de alguém que venha a conhecer nessas circunstâncias. Mas neste exato momento estou escrevendo este post e entrando numa sala do Terra, categoria Cidades, São Paulo. Veja que eu poderia ir direto a uma sala de sexo virtual, mas vamos com calma e ver no que dá. Meu nome é Flavia mesmo e eu acabo de entrar na sala. Dois segundos depois ESPIANDO O SEU DECOTE fala reservadamente comigo: Oi, posso tornar seu dia mais ecitante? Eu nem acabei de superar o assassinato à língua portuguesa e TIGRÃO me fala reservadamente: Oi gatinha, quer tc? Ribeirão Pires e vc?
Eu pergunto para todos em caixa alta: TEM ALGUÉM QUE NÃO SEJA CAFONA NESTA SALA? Fui antipática, eu sei. Marcelo e Kzado SP tinham apenas me dado oi e saíram da sala. Bruninha_Mineirinha pergunta para Kzado SP (o que saiu): Você é casado? Muito lenta, Bruninha. Muito lenta. ESPIANDO O SEU DECOTE aproveita a deixa da minha pergunta, agressiva para os moldes do local, e me diz: Seria melhor se vc tc comigo reservadamente. Assim vc aproveita e me ajuda numa coisa. Eu sempre começo a conversar com mulheres e elas dizem que acham vulgar a maneira como os homens abordam nos chats. Cafona, como vc disse. Como vc gostaria de ser abordada por um homem?
Flavia responde: Olha, eu não tenho a menor idéia de quem é vc. Mas com esse seu nick, tenho a sensação de que estou falando com o Wando. Sei lá, que tal se vc tivesse um nome e escrevesse corretamente e dissesse coisas normais? TIGRÃO me fala que está peladinho e pronto para me dar muito prazer. Eu respondo: Peladinho? Vc é o Tigrão, amigo do Ursinho Puff? TÔ CONDIDA entra na sala e eu pergunto intrigada: O que é Condida? Ela responde: Escondida. Claro, como sou burra: “condida”, tipo bebê falando. ESPIANDO SEU DECOTE fica puto e responde que eu estou na sala errada, que devo estar procurando um meninão. Vc deve ser uma menininha. Olha o que faz a imaginação: uma menininha teclando com o Wando. TIGRÃO deve ter repetido que está peladinho para G@tinh@ Loirinh@, que responde animada: Jura? Sem nadinha mesmo? Tô ficando maluquinha. (Pra que tanto diminutivo?) ESPIANDO O SEU DECOTE sai da sala. TIGRÃO sai da sala. Ei, voltem aqui. Vocês estão fazendo tudo certo. Eu é que não tinha nada que estar aqui. Saí. Para nunca mais voltar. Desculpa aí, mas para mim não dá.

Em algum lugar de São Paulo, o cara que usava o nick ESPIANDO O SEU DECOTE comenta com um amigo: Esses chats estão cada vez piores. Você não imagina a mina insuportável que eu teclei agora. Só tem gente desclassificada.

24 de ago. de 2008

Breve história de quase tudo

Se existem duas frases que eu uso com freqüência, são “Eu sou uma pessoa rasa” e “Me explica como se eu fosse uma criança de 5 anos”. Estou longe de ser burra, mas digamos que os assuntos que me interessam e que eu conheço com alguma (eu disse alguma) profundidade são aparentemente os mais bestas, estúpidos, simples. Do que as pessoas consideram realmente relevante, conheço pouco e assumo. Exemplo: nunca li nada do Hemingway, mas conheci vários bares pelo mundo em que o pinguço tinha mesa cativa. O que me faz simpatizar muito com ele. Mas antes de ler O Velho e o Mar, sou muito mais obstinada em assistir ao último episódio de Seinfeld.
Entendeu o nível do que eu chamo de rasa? Ok.
É por estas e outras que veio parar nas minhas mãos um livro chamado “Breve história de quase tudo”, do Bill Bryson. Um autor americano de best-sellers (eu sei que soa péssimo), um cara que decidiu fazer uma pesquisa de 3 anos sobre o big-bang, as partículas atômicas, a evolução da espécie e do universo e fazer exatamente o que eu sempre peço: explicar como se estivesse falando com uma criança. Claro que 5 anos é força de expressão, mas o livro é tão leve e prazeroso de ler, que dá uma tremenda inveja. Eu realmente admiro quem sabe se expressar de uma maneira tão simples, clara e acessível. Quero que ele se foda muito, de tanta inveja que eu tenho.
Sabe como o desgraçado, filhodaputa, lazarento consegue descrever o trabalho do australiano Robert Evans, que tem um telescópio no terraço de sua casa a uns 80km de Sydney e dedica parte da sua vida para caçar supernovas (já para o Google, bem)? Assim:
“... imagine uma mesa de jantar comum, coberta com uma toalha preta. Alguém joga um punhado de sal sobre a mesa. Os grãos espalhados podem ser comparados a uma galáxia. Agora imagine outras 1500 mesas iguais – número suficiente para lotar um estacionamento do Wall-Mart ou para formar uma linha com mais de 3km de comprimento – cada qual com um arranjo aleatório de sal em cima. Agora acrescente 1 grão de sal a uma das mesas e deixe Bob Evans caminhar por entre elas. De relance, ele o localizará. O grão de sal é a supernova.”
Se rasga, maluco. Eu te odeio. Muito. É tão legal, tão bem escrito que dá raiva. Eu estou completamente viciada no livro. Recomendo com louvor e estrelinhas. Como uma criança de 5 anos.

23 de ago. de 2008

Invisível

Aconteceu comigo. Eu fiquei completamente invisível. O mais estranho é que antes de sair de casa eu dei aquela última conferida no espelho e estava tudo lá. Não sei explicar como aconteceu mas foi isso. Tá, eu lembro que quando era criança e assistia ao Sítio do Pica-pau Amarelo, acreditava em pó de pirlimpimpim. Mas convenhamos que ninguém aqui tem mais idade para isso. Só vejo uma explicação: alguém deve ter se concentrado muito para isso acontecer, mas juro que não fui eu.
Tinha gente que me via e gente que não. Eu podia passar através de quem não me via. Passei várias vezes. Para lá e para cá. Sabe coisa de filme? Você passa através da pessoa e vê tudo o que ela tem por dentro.
Eu sei que parece brincadeira. Tem gente que vê ovnis, tem gente que fica invisível. Difícil de acreditar mas quem passa por coisas assim sabe que aconteceram, mesmo que sejam inexplicáveis. Foi tão desconcertante que eu não consegui me divertir com isso. Eu poderia ter derrubado copos, distribuído pescotapas, ficado pelada, feito o diabo. Mas não. Pelo contrário: travei, fiquei assutada. No dia seguinte, fui tomada por uma vontade enorme de sumir. Mas agora tenho que aceitar a realidade. Fazer o que se eu tenho super-poderes?

18 de ago. de 2008

Medalhas Olímpicas do Ridículo

BRONZE
Quem viu a vitória do César Cielo pela Globo e teve vontade de afogar o Galvão Bueno toca aqui. Gente, o que foi aquilo? Era um tal de vovó Olga para lá, vovó Olga para cá. O neto se prepara anos para aquela medalha e, quando ganha, a avó não tem o direito de ouvir o que ele diz nem de curtir o momento porque o Galvão não pára de fazer perguntas estúpidas, comentários piegas, e de contar o quanto aquele momento será inesquecível para ele mesmo. Afe. Ela só queria abraçar as pessoas, chorar, comemorar. E ele: Vovó Olga (como se ele não fosse mais velho do que ela), fala qualquer coisa que você está sentindo agora. Qualquer nota, isso sim.

PRATA
Uma coisa que me irrita profundamente é a dupla-de-jogadores brasileiros-naturalizados-na-Georgia, do vôlei de praia. E isso não pode ser citado separadamente. Tudo o que eles fazem é narrado exatamente assim pelos jornalistas e comentaristas. A dupla de jogadores brasileiros naturalizados na Georgia ganha destaque. Ponto para a dupla de jogadores brasileiros naturalizados na Georgia. A dupla de jogadores brasileiros naturalizados na Georgia almoça numa churrascaria. A dupla de jogadores brasileiros naturalizados na Georgia quer cocô. Fora o trocadilho. Eles gostam de ser chamados de Geor & Gia. Gente chata. Se ao menos fosse uma dupla de brasileiros naturalizados em Trinidad & Tobago. (A-do-ro Trinidad)

OURO
Meu amigo Roger Bassetto (www.rogerbassetto.com.br) fez o comentário mais genial e definitivo sobre as Olimpíadas. Segundo ele, a marcha atlética só pode ser um esporte inventado pelos caras do Monty Python. Aquela reboladinha, acompanhada pela expressão séria e concentrada dos competidores tem tudo para ser piada. E das melhores.

12 de ago. de 2008

I’ve got you under my skin

Quando eu era pré-adolescente, cool era quem tinha lido o livro Eu, Christiane F, 13 anos, você sabe o resto. Acho que era o equivalente hoje, a ler o último Harry Potter antes de todo mundo (geraçãozinha mais sem graça esta, não?). Uma das coisas que eu lembro deste livro é como eram narradas as crises de abstinência dos viciados em heroína. Os amigos da Chris chegavam a coçar o corpo com uma escova de cabelos até ficarem em carne viva, tal era o desespero.
Todo este blá-blá-blá para chegar na comparação: se a paixão é química e causa euforia na gente, se separar de quem a gente ama pode causar uma crise de abstinência tão intensa como a de qualquer outra droga.
Não sei você, mas eu já senti dor física, contrações musculares, náuseas (juro) e já me desesperei de tanta falta que eu senti do meu amor. É uma experiência das mais pavorosas. E o mais louco é que eu nem posso dizer que não recomendo porque, assim como as drogas, só passa pela crise quem sentiu antes todo o prazer e a euforia de viver a história em si. É péssimo mas vale à pena. Muito. Se joga. Agora.
Deveriam inventar clínicas de desintoxicação para isso. Os pacientes oscilariam entre os que foram por contra própria, pediram ajuda a parentes e amigos zelosos, e os tipo o cara do Polegar, que engolem pilhas e vivem dando bafão. O fundo do poço.
E as recaídas? Você reencontra o bofe, rola um flash back e sua família pára de confiar em você, seus amigos se decepcionam. Você é mesmo um fraco. Tem dias que eu venderia a TV de plasma do vizinho por alguns minutos de uma recaída dessas. Mas aí entra em cena o amor-próprio e o orgulho, que te trazem de volta para o macio e o quentinho que é esta merda em que a gente vive quando sofre por amor. O grande problema é que tudo o que lembra a pessoa faz a gente tremer, piscar um olho só e bater o pé direito no chão, tudo ao mesmo tempo. Os lugares que você freqüenta, os filmes, as músicas, tudo isso deveria ser tirado do nosso alcance. O que não adiantaria nada porque, como bons viciados, a gente faria fundos falsos em gavetas para esconder fotos, faria playlists com nomes fake no ipod. No meu caso, jazz é um estopim. E eu sei que nunca vai chegar o dia em que eu vou dizer: estou há X dias sem ouvir Ella Fitzgerald, Louis Armstrong ou Dinah Washington. Há de chegar sim, o dia em que eles não vão causar mais tanto frio no estômago.
Estou quase lá.

4 de ago. de 2008

Dois anos

Hoje o Bacanérrimo faz 2 anos.
E quase que a data passa batida, não fosse uma curiosidade que me veio. Olha que louco. Fui ver a data da primeira postagem e pimba: 4 de agosto de 2006. Há 2 anos eu me prometo que vou escrever com mais disciplina. Há 2 anos eu espero o Chris dar um tapa no meu template (rararararara). Há 2 anos eu tento descobrir como colocar aqui uma lista de blogs que eu amo e não coloco porque sou burra e não sei usar as ferramentas. Posso dizer que faço terapia há dois anos porque isso aqui tem sido uma válvula de escape para dizer o que eu penso (e eu penso muito). É uma delícia ver que tenho leitores fiéis. Fico triste quando algum deles não comenta, me preocupo, acho que pode estar resfriado ou pior, achado uma bosta o que eu escrevi (freqüentemente eu acho, mas é que eu sou capricorniana com ascendente em áries). Fico feliz quando vejo gente nova comentando. Ai, ai...
Bom, fora a cobrança para o Chris me ajudar, peloamordedeus, a mudar o template, este post é pura e simplesmente para agradecer. Obrigada para quem lê e, especialmente, para quem volta sempre. Obrigada para os escritores de outros blogs maravilhosos que indicam o Bacanérrimo entre os seus favoritos. Se eu soubesse, retribuiria. Obrigada para quem repassa os textos. Para quem cita algumas coisas que eu escrevo aqui. E obrigada até para quem copia na cara dura e não cita (tem isso também). Beijocas estaladas.

1 de ago. de 2008

Não estou preparada

Um dia vai acontecer. Não resta a menor dúvida. Mas nada nem ninguém que já tenha passado por isso ameniza ou torna a questão mais fácil de encarar.
Definitivamente vai ser um dia muito triste o que eu vir a me deparar com meu primeiro pentelho branco. Será como um registro de: agora é ladeira abaixo, gata.
Espero que demore muito.
Não estou pronta para lembrar do Cid Moreira toda vez que tiro a roupa. Fora a voz, que só eu vou ouvir nos meus pensamentos, me dizendo um sonoro Boa Noite.