18 de dez. de 2006

Folha ou Estadão?

Afinal, qual é o melhor jornal? O Estadão tem o Luiz Fernando Veríssimo mas a Follha tem a Ilustrada. O Guia da Folha é imbatível, mas as campanhas publicitárias do Estado são muito mais inteligentes (pelo menos eram, vai). O projeto gráfico da Folha é mais isso, o do Estadão é mais aquilo. O anti-petismo/lulismo do Estadão é mais escancarado. A Folha é mais em cima do muro e paga de mais isenta.
Como diz a minha empregada, aí vai da pessoa. Sempre vai ter alguém com motivos diferentes para preferir um ou outro. Essa discussão não tem fim. E nem os próprios jornais em questão querem que tenha. A competição é boa para os leitores e eu sou uma pessoa rasa demais para ficar fazendo divagações, como os jornalistas tanto gostam. Empate técnico também é inaceitável porque, afinal de contas,ter uma opinião é importante nessa vida.
Então, para decidir o meu jornal preferido e para contribuir de alguma forma nesta discussão, aí vai minha opinião sincera, despretensiosa e cheia de propriedade: a Folha é mais absorvente que o Estadão. As páginas da Folha absorvem o líquido por igual. Pelo menos é isso que eu noto quando troco o jornal onde meu cachorro faz as necessidades todos os dias. Choquei agora, né?

9 de dez. de 2006

Atropelamento e fossa

Em 1997 eu fui atropelada. Mas desses atropelamentos com tudo o que se tem direito: barulho de freada, pára-brisa do carro quebrado, batida de cabeça, sangue, pessoas se aglomerando em volta, paramédicos, trânsito interrompido, imobilizador cervical, maca, ambulância, pronto socorro, raio X, gesso, muletas, fisioterapia e um bom trauminha básico. A sensação de ter esbarrado com a morte é bem estranha para qualquer pessoa.

Mas nada nesse mundo faz a gente se sentir mais mortal do que sofrer por amor.

Também têm batidas de cabeça, sangue fervendo, pessoas amigas se aglomerando em volta, indicando terapeutas (que não deixam de ser uma espécie de paramédicos), tentando descobrir o que se passa dentro da gente, servindo de muletas pra gente sair dessa. Também tem trauma num amor que não dá certo. Mas não tem nada equivalente a fisioterapia para você ir melhorando aos poucos, para ir trabalhando aquele músculo involuntário que está em pedacinhos. Quando um amor de verdade te faz sofrer, dói mais do que qualquer pancada e qualquer corte. Por que não é físico. É irracional e instintivo. Não tem um ortopedista especializado em dor de cotovelo para te dizer: daqui a 10 dias você tira este gesso e volta à vida normal.
Só a dor de amor te dá aquela sensação de acordar e se perguntar: alguém anotou a placa do carro que me atropelou?

23 de out. de 2006

So a cabecinha

Uma das tarefas mais difíceis de ser criança é ser a irmã caçula. Principalmente quando seus irmãos têm 4 e 5 anos a mais do que você. Quando a gente é criança, 4/5 anos é uma eternidade. Imagine que quando meus irmãos tinham 8/9, eu tinha 4 - praticamente um bebê. Eles eram da mesma geração e tinham os mesmos amigos. Eu era a pentelha, que queria muito participar da brincadeira. Simplesmente um saco. Por conta disso, desenvolvi um monte de manias esquisitas. Tinha amigos imaginários e até hoje tenho o hábito de falar sozinha. Adoro monologar.
Uma das brincadeiras preferidas da galera era “As Panteras”. Cada uma das amigas da minha irmã era uma das personagens do seriado. Os amigos do meu irmão, os bandidos. Quando ninguém queria ser a Sabrina eu entrava em cena e elas fingiam que me deixavam brincar. Eu também podia ser o Bosley, mas era meio monótono participar só do começo da brincadeira. Quando brincavam de casinha eu era a empregada. E lavava cada panelinha feliz da vida.
Um dia minha avó me deu uma boneca linda, loura, dançarina de flamenco com um vestido vermelho com fenda e renda preta. E boneca nova a gente nem penteava muito para não transformar os cachos em bombril de nylon. Eu tava bem feliz brincando com a boneca nova e minha amiga imaginária quando a minha irmã chegou inexplicavelmente sorridente, me convidando para brincar com elas. Dei um peteleco na amiga imaginária e fui toda feliz. Era bom demais. Na verdade, elas queriam propôr um negócio: me deixavam brincar se eu emprestasse minha boneca para uma das amigas. Putz, minha boneca nova. Mas era o melhor que elas podiam me oferecer. Pegar ou largar. Eu larguei a boneca, feliz.
Daí, percebi que tinha alguma coisa errada: se eu tinha que emprestar a boneca porque estava faltando uma, com o que eu iria brincar? Minha irmã, tão amável, logo me mostrou a solução: enquanto a amiga dela estraçalhava os cachos da minha boneca nova com um pente, eu brincava com uma cabeça de Susi quase careca e com a boca riscada de caneta Bic enfiada no dedo indicador. Foi uma tarde inesquecível.

Cher

Eu era adolescente quando, num desses almoços barulhentos de família, uma tia comentou: você parece com a Cher.
Fez-se o silêncio. Ela nem imaginava mas começou aí um conflito na minha cabeça. Vamos combinar que parecer a Cher não é exatamente um elogio. Para piorar, no mesmo momento ela disse que minha prima parecia a Isadora Ribeiro. Veja bem: quando eu era adolescente a Isadora Ribeiro fazia a abertura do Fantástico, capa de Playboy e era uma das mulheres fogosas do Jorge Tadeu na novela. Bacana.
Cacildis, eu só lembrava da Cher como a mãe problemática do homem-elefantinho de Marcas do Destino, a viúva esquisita de Feitiço da Lua e como bruxa de Eastwick. Não gostei, ponto. Mas mesmo não gostando, este passou a ser um comentário recorrente na minha vida. Todo mundo dizia e ainda diz isso. Na Bahia, cheguei a ouvir um grupo de meninas bêbadas com camiseta de micareta gritando: Ela parece com Cher. Cher, tire uma foto com a gente, tire.
Teve uma época em que isso me irritava profundamente. Eu só pensava que se a Cher fosse brasileira, seria uma chacrete. Em vez de casar com o Sonny Bono, teria casado com o Wando. Mas o tempo passou e um dia me acharam parecida com a Paula Lavigne (do Caetano). Num passe de mágica eu comecei a preferir a Cher com todas as minhas forças. O mundo deu voltas, a Cher virou cult e a Isadora Ribeiro virou... Bom, deixa pra lá... Mas outro dia um amigo falou a frase que definitivamente resolveu essa questão na minha cabeça: não sou eu que pareço com a Cher. Ela é quem quer parecer comigo. Já fez umas vinte plásticas para isso. Adorei. Podem me dar alta na terapia.

Fora do ar para troca de equipamentos

Eu não tenho muita dificuldade de acreditar na bondade das pessoas. Até me prove o contrário, todo mundo é gente boa. Só não consigo confiar 100% no caráter de um indivíduo capaz de vender as próprias férias. E pior: vender exatamente para a empresa que te deixou um caco.
Ora, faça-me o favor. Venda o carro, a casa, a câmera digital ou o seu ipod (semana que vem eles vão lançar um melhor do que este que você tem). Pensa bem se você não tem recursos mais dignos de levantar essa grana. Pode fazer as contas que nunca é tanta grana assim. É uma necessidade básica tirar uns dias nem que seja para ficar em casa, vendo a sessão da tarde ou fazendo qualquer outra atividade que te permita dormir durante, se der vontade.
Eu não vendi as minhas como você pode ver pela data do último texto postado. Aproveitei cada minuto e tive várias idéias e ímpetos de escrever textos novos para colocar aqui. Mas daí bateu um soninho e eu resolvi deixar para depois. Desculpa aí para quem reclamou, mas durante as férias só aceito cobrança de hotel e garçon.
Agora vai. Prometo.

29 de ago. de 2006

Levanta a cabeça e assume logo

Eu tinha menos de 15 anos quando vi um travesti pela primeira vez.
A Shana era praticamente uma atração turística na cidadezinha que eu morava. E quando fiquei frente a frente com ela, pelo espelho do salão de cabeleireiro, percebi que ela me olhou e traçou imediatamente o meu perfil. Impressionante como entendidos entendem mesmo. Ela deu um sorrisinho irônico de quem já tinha sacado todo o drama e, assim que a minha mãe se afastou, falou: acho melhor você assumir logo.
Eu fiquei muito passada. Como assim? Aquela pessoa mal me conhecia e já tinha percebido que eu tinha questões para assumir. Fiquei um pouco nervosa com o jeito direto dela falar. Suava frio. E ela continuou: você tem que se aceitar do jeito que é. E as pessoas vão acabar te aceitando também. Olha pra mim. Eu sou um bom exemplo disso.
Aquilo era o maior clichê do mundo, fiquei puta. Olhei para aqueles peitos fake e disse: peraí, o teu caso é muito diferente do meu. Não dá para comparar. E ela: claro que dá. A diferença é que eu tenho muito menos caraminholas na cabeça do que tu. Mas sei bem o que tu estás passando. O problema com a aceitação é o mesmo. Olha para ti e assume, boba. Teus amigos de verdade vão se acostumar com a idéia e vão gostar de ti assim. Leva um tempinho, mas tua família vai até gostar. Tu vais ser muito mais feliz sendo do jeito que és. Vai por mim...
Eu só pensava nas minhas amigas. O que elas pensariam? Será que percebiam como eu olhava para elas querendo ser igual mas não conseguindo. Usando artifícios, me esforçando pra parecer com elas, mas não adiantava. Será que elas notavam que eu era diferente? Se ao menos tivesse alguém como eu na turma. Então eu pedi para ela parar com aquele assunto, que minha mãe estava chegando. Eu precisava resolver aquilo na minha cabeça para depois poder mostrar para todo mundo. E como era difícil. Nos dias chuvosos e cinzas eu queria morrer. Não tinha vontade de sair de casa. Eu não gostava da transformação que estava vendo. Então decidi seguir o conselho e a influência da especialista no assunto. E percebi que quanto mais eu assumia, quanto mais deixava aquilo crescer, mais as pessoas me olhavam. E não era um olhar de reprovação. Eu me sentia mais bonita e mais atraente. Mais feliz.
Mas posso falar: é uma barra pesadíssima assumir os cabelos cacheados quando todo mundo faz chapinha.

28 de ago. de 2006

Santo remedio

Quem está na balada tem que estar preparada para conhecer todo tipo de pessoa. Adoro conhecer gente mas ninguém é obrigado a aturar mané. Existem mil maneiras de se livrar rapidamente de um mané. Você pode dizer que vai ao bar pegar uma bebida e nunca mais voltar. Mas mané que é mané fala que vai com você. “Vou ao toalete” é sempre bom. Desde que você não vá. Porque mané que se preze fica esperando perto da porta. Você pode dizer que precisa encontrar sua amiga, que seu celular tocou e você vai atender lá fora. Mas posso falar? Nenhuma dessas fórmulas é infalível.
Eu desenvolvi minha própria técnica. Aliás, deu certo meio sem querer e, desde então eu aplico sempre. Assim que eu percebo que o cara é mané mesmo, sem chances de reverter o quadro, no meio do papo eu interrompo com a pergunta:
- Você é parente do Chico Anysio?
Você não pode imaginar o poder que esta simples pergunta tem. Ela causa reações inesperadas. Nem eu entendo direito. É como o Homem Aranha descobrindo que tem superpoderes. É simplesmente desconcertante. Alguns querem saber de onde eu tirei isso e a resposta tem que ser meio reticente: sei lá, a sobrancelha. Ou pior: deve ser algum personagem.
Tem cara que fica puto, tem gente que acha graça. Mas a maioria dá uma disfarçada e cai fora. Como diria o próprio Chico Anysio: Tá com pena? Então leva para você.

27 de ago. de 2006

Novela Mexicana

Adoro novela. Desde sempre. Assiti muitas e tenho uma memória fora do normal para nomes de personagens, aberturas do Hans Donner e tudo mais. Assisto sempre que posso, choro e sim, tenho um pouco de VPP (Vergonha Pela Pessoa) quando vejo alguns diálogos muito estúpidos. Acelerei muito na marginal para não perder os últimos capítulos de Belíssima.
Mas da mesma maneira que é difícil entender como alguém pode gostar de cinema iraniano, muitos apreciadores de novelas não entendem como é possível gostar de novela mexicana.
Amo. É mais do que adorar. Se você fizer um pequeno esforço inicial e tentar gostar, vai virar fã rapidinho. E isso um dia vai ser útil. Vai por mim.
Com o tempo você começa a entender o por quê daqueles cabelos. Da maquiagem excessiva. Dos nomes sempre compostos. Do enredo que é sempre o mesmo: a menina linda e paupérrima que veio do interior para trabalhar na casa de uma família de bacanas da cidade grande e, logo nos primeiros capítulos é ingenuamente seduzida pelo playboy casado e filhinho de mamãe (porque no México mamãe é muito mais importante que papai). Todas as novelas mexicanas começam assim. E depois que a caipira é humilhada e percebe que foi ludibriada, passa o resto da novela trabalhando que nem um camelo, fica milionária, muda de nome e reaparece na vida do playboy fdp em busca de vingança. Mas o destino se encarrega de fazer com que o playboy fdp não só se arrependa, mas perceba que ama aquela mulher. Ela, que já chorou a novela inteira e depois de rica usa muito (eu disse muito) mais rímel, finalmente sucumbe a essa paixão pra não ficar feia na tela. E fim. É sempre assim. E eu descobri o motivo de ser assim.
É o mesmo princípio dos Teletubbies com as crianças: tão repetitivo que é pedagógico. Novela mexicana deveria ser indicada pelos terapeutas para as mulheres da minha geração. Ali estão todos os conflitos básicos apresentados com um exagero didático para que a mulherada aprenda a não cair no conto do vigário, não se meter com homem casado e, nem de longe, confiar na sogra. E se por acaso um dia você estiver quase sucumbindo a alguma dessas roubadas tão clichês e achando que com você tudo vai ser diferente, tente se imaginar com uma tintura loura muito amarela, muita sombra azul e cajal escorrendo com as lágrimas. Pensa no papelão e sai dessa. Faça como as mulheres mexicanas: força na peruca e potência no laquê.

16 de ago. de 2006

Siga o lider

Jerry Seinfeld (amo-o) falou que se um extraterrestre viesse para a Terra, ao ver as pessoas passeando com seus cães pelas ruas e parques, acharia que os líderes são os de quatro patas. Que outra razão justificaria um humano quase ajoelhado, submisso, catando cocô num saquinho?
Eu sou melhor amiga de primeira viagem. Adotei um vira-lata e estou adorando. Mas por conta disso tive que abrir um monte de concessões na minha vida, no meu apê e no meu senso do ridículo. Já corri por uns 10 minutos pela sala tentando, em vão, salvar um sutiã. Não consigo mais vestir uma calça jeans sem fazer cabo-de-guerra: eu de um lado, uma das pernas da calça entre-dentes do outro. A duração de uma meia-calça pode ser cronometrada. Os pés das minhas mesas e cadeiras nunca mais serão os mesmos.
Agora nada disso se compara ao perrengue que eu passei para ensinar o pequeno a fazer o nº1 e o nº2 no lugar certo. Decidi recorrer ao “adestramento inteligente”, que consiste em ensinar sem puxar a orelha nem sapecar uns tapas. Minha missão era fazer o bicho deduzir por associação o que é certo e o que é errado (coisa que nem eu sei se já aprendi). Parecia difícil mas a regra é clara: certo é igual a biscoito, colo, afago na cabeça, aicoisaquerida. Errado vem seguido de indiferença e de (olha que bonito!) punições despersonalizadas. Ele tem que relacionar o que faz de errado a alguma sensação desagradável não vinculada a mim: podem ser barulhos esquisitos (uma lata vazia caindo) ou um esguicho de água gelada. Entendeu? Nem eu. Mesmo assim fui em busca de barulhos bem esquisitos e ele aprendeu.
Voltemos ao extraterreste: como ele narraria o que viu na minha casa? “A terráquea espalhava os periódicos com notícias do planeta pelo chão de um cubículo e esperava que o líder depositasse ali suas oferendas. Ele, numa atitude de rebeldia, se dirigia a um tapete felpudo e lá sim, fazia as honras. Em seguida, a escrava aparecia alterada e, numa espécie de ritual de homenagem, tocava um instrumento musical primitivo com influências africanas, bem próximo à cabeça do líder. Este dava um salto e corria imediatamente para o ponto mais distante possível, de preferência debaixo de um móvel. E isso se repetia umas 4 vezes por dia.

Sim. Eu toquei muita maraca cubana para o meu cachorro fazer cocô no jornal.

14 de ago. de 2006

Passou o dia dos pais com o seu?

Eu não. Por razões práticas: pendências para resolver, grana curta, tempo curto. Se ao menos tivesse um feriado para emendar até dava pra encarar um avião mais 3 horas de ônibus para ir e tudo de novo para voltar).
Pergunto isso por um motivo simples: eu não pude ir ver o meu pai, mas a galera dos presidios, os detentos que se comportaram diretiinho, esses puderam. Melhor ainda: foram liberados na quinta para não ficar muito corrido. Que sair no sábado pra voltar no domingo, ninguém merece. Parece até castigo, né?
Meu pai já desencanou dessas datas. Devem me achar uma desnaturada.
Já com a família dos detentos é o contrário: todo dia das mães, dia dos pais e natal é batata que eles estão lá, marcando presença. Todo mundo feliz, rindo à toa. Só rindo mesmo.

9 de ago. de 2006

Pelada na Paulista

Escrever este blog e ver os comentários postados está me dando um imenso prazer, combinado com um frio na barriga. Frio não. Isso é dor de barriga mesmo. Um monte de gente elogiou mas como todo mundo é amigo eu tenho que dar aquele desconto. E isso não é falsa modéstia, que eu não sou disso. É a mais pura verdade. É um fenômeno/frescura/nóia que acomete quase todas as pessoas que escrevem que eu conheço (até escritores experientes). É simples: escrever é se expor. Mas se expor de um jeito absurdo, porque revela coisas muito profundas: umas bacanas, outras surpreendentes, algumas até meio assustadoras. Juro: me sinto correndo pelada pela Paulista. Dá uma sensação de que todo mundo está olhando para aquelas partes que a minha mãe sempre recomendou que eu mantivesse cobertas. E o pior: a galera da Paulista tá falando bem do que está vendo. O que dá orgulho mas ao mesmo tempo lembra: nega, tu tá pelada. Cobre essas carnes aí. Ou assume logo que tá gostando do ventinho.

7 de ago. de 2006

Auto-estimometro

Toda mulher sabe que ter a auto-estima nas nuvens funciona mais do que a beleza propriamente dita. Você pode ser um monumento, estar com tudo em cima. Se a auto-estima não acompanhar na altitude, você passa mais batida que secretária de consultório médico da novela das 6. E isso ninguém merece.
Meu trabalho fica numa avenidona aqui em São Paulo, dessas com muito fluxo de caminhões e motoboys. E eu desenvolvi um auto-estimômetro a partir disso. Funciona assim: sou obrigada a ouvir uma média de 3 buzinas no trajeto do estacionamento até a esquina da agência. Buzinar é bizarro, é o ó, caminhoneiros e motoboys (com todo o respeito) não são o meu target, mas não é que funciona.
Em dois quarteirões não existe nenhuma possibilidade de não ouvir nenhuma (pelo menos no meu caso, tá? Desculpa aí.) Uma é grave, duas é aceitável, três tá ok. Mas tem dias que eu ouço sete, oito e aí é correr para o abraço, que o dia promete. Depois de sete buzinas não tem uma pessoa que não pergunte: o que você fez no cabelo? Tá com a cara boa, tá bonita, tá gata. E eu sou obrigada a concordar porque depois de sete buzinas, meu bem, eu fico me achando. Acorda mais cedo, capricha aí e arranja um auto-estimômetro para você também. E não deixe a média de buzinas nem a auto-estima cair. Em hipótese nenhuma.

Quando a auto-estima cair no dedão do pé, vá à pedicure e deixa esse dedão tudo.

Orgulho Hetero

Depois de ver quase 2 milhões de pessoas na Parada do Orgulho Gay em São Paulo, muita gente aproveitou para manifestar simpatia, admiração e apoio incondicional à causa. Eu sou uma dessas pessoas. Tanto que a Parada Gay, na minha opinião, está prestes a se tornar um evento meramente ilustrativo, como o Dia Internacional da Mulher. Nem nós mulheres e nem os gays precisam provar mais nada para ninguém. Se ainda tem gente que pensa o contrário, eles é quem são (ou deveriam ser) minoria.
Eu iria mais longe: os gays estão tão bem resolvidos que nós é que deveríamos começar a resgatar o nosso Orgulho Hetero.
Sim, porque quando alguém diz que é gay, algumas coisas como coragem, bom gosto musical, bom nível intelectual, sensibilidade, talento, bons cortes de cabelos e guarda-roupas impecáveis já estão implícitos. Sem falar nos corpinhos malhados, cada vez mais explícitos, que eles podem.
A nós, heteros, resta a sorte de ter um amigo gay por perto para dar umas dicas de como agir na hora da conquista, como enfrentar melhor as questões familiares e como saber que não se deve, em hipótese nenhuma, combinar o cinto com o sapato.
Em algumas situações ou lugares, é ainda mais difícil bater no peito e dizer para o mundo inteiro ouvir: EU SOU HETERO. Experimente entrar de sopetão no cinema do shopping Frei Caneca ou no Spot, por exemplo. Definitivamente as pessoas olham como se você não fosse da turma. E quando você fica na frente da tenda do Skol Beats, com camisa? É tanta cotovelada que você deveria ir de colete blindado.
No mercado de trabalho é a mesma coisa. Bem que a gente queria competir de igual para igual. Mas por que só os gays viram bons cabeleireiros, estilistas, padres, gerentes de marketing e atores iniciantes na Globo?
É nessas horas que a gente tem que erguer a cabeça e enfrentar mesmo. Ter coragem de assumir o que somos. Alguém tem que ficar no armário. É tão bom e escurinho aqui dentro.
Vamos começar a pensar na nossa própria parada. A Parada do Orgulho Hetero. Puxe pela memória: você deve ter uns 5 ou 6 amigos hetero espalhados por aí. Servem simpatizantes. Pois convoque-os. Vamos mostrar para a sociedade que a gente é feliz e bem resolvido sendo hetero mesmo. Que as nossas preferências sexuais não têm nada a ver com a nossa essência, com o nosso bom gosto e o nosso caráter. Dá para acreditar que em pleno 2006, tem gente que pensa assim?
Claro que a Parada do Orgulho Hetero não vai levar 2 milhões para a Paulista, que isso seria muita pretensão da nossa parte. Mas umas quinhentinhas na Berrini, acho que rola.
Vamos ser realistas: nosso movimento ainda é uma coisa pequena.
Coisa para um trio elétrico, no máximo. Tocando apenas sucessos de cantores heteros da nossa MPB. Nem que a gente quisesse teria música suficiente para dois trios.
Ah, você não vai poder ir? Tem que acordar cedo, almoçar na casa da sogra, tem que ir ao Ibirapuera caminhar? Tem que ir ao shopping, ao supermercado. Tá vendo? Depois não sabe porque a gente fica com fama de chato.

(Queria que este texto fosse uma homenagem a todos os meus amigos gays. Escrevi umas duas semanas antes da Parada, mas só agora tive coragem de divulgar. Coisa de hetero.)

Por gentileza: feio mas feliz

Eu sou fã de carteirinha do programa Extreme Make Over. Acho que eles fazem um bem enorme pelas pessoas tenebrosas do mundo. Eles têm a manha de escolher quem realmente precisa, até por motivos de saúde, fazer alguma coisa pelos dentes péssimos, pelos narizes caroçudos e pelas papadas moles.
Não, eu não tenho preconceito com gente feia. Bem que gosto de um feio. Mas não deixa de ser um bem para a humanidade deixar pessoas muito feias mais aceitáveis.
Tirando a parte que eles mostram closes da cirurgia em si, que eu não olho senão desmaio, e o fato de que todo mundo fica com o mesmo sorriso branco-até-demais-para-o-meu-gosto, acho que eles são muito bons. O programa é uma ótima idéia e um sucesso tão grande, que todo mundo já deu um jeito de copiar. Inclusive os canais de TV brasileiros.
Mas acompanhe meu raciocínio: o que realmente dá audiência no Brasil são aqueles quadros em que a produção escolhe alguém com uma vida miserável, dá um banho de loja, um tapa na peruca, compra uns dormitórios capelinha, faz uma vaquinha com os patrocinadores e pronto: sacode a vida do sujeito. Só que isso demora horas, rios de lágrimas para acontecer. E o da poltrona fica ali, catatônico, ouvindo todas as mazelas das vidas alheias até ver o desfecho no palco.
Pois muito bem. Já que não dá para abrir mão do que dá audiência (a choradeira) nem do que todo mundo está vendo (as transformações radicais), os brasileiros decidiram simplesmente unir os dois formatos. Eles pegam o feioso, contam a história triste da vida dele, fazem o povo chorar muito e transformam a aparência da figura. Uma coisa 2 em 1. É louvável mas pode dar problema.
Imaginem a cena do pobre-diabo, já a caminho da sala de cirurgia, com o rosto todo pontilhado. Ele dá um último telefonema. A tela se divide ao meio: de um lado a família desvalida, chora compulsivamente. Do outro, o feio também chora e diz: “eutiamo, Joengride”. As lágrimas escorrem pelo rosto pontinhado. O nariz escorre pelo rosto pontihado. Na hora da cirurgia, cadê o pontilhado? Apagou, borrou, escorreu com as lágrimas.
Os cirurgiões se olham, coçam a cabeça e um deles pergunta:
- Você lembra onde era mesmo a incisão?
- E o lifting? Era mais no canto ou mais no meio da pálpebra? Esse olho não tá meio inchado? Tiro ou não tiro a bolsa?
O resultado, você pode ver todos os domingos na TV aberta. E é de chorar.

Homem nao chora

Se algum dia você encontrar por aí um homem dizendo que tem medo de uma mulher, pega os dados dele e me passa. Urgente.
Só assim eu vou acreditar na desculpa mais utilizada pela mulherada para justificar a bancarrota dos seus relacionamentos.
Ele tem medo porque está acostumado com menininhas e eu sou mais experiente. Ele ficou assustado porque eu sou muito moderna e indepentente. Ele ficou com medo de se envolver rápido demais e preferiu sair fora.
Desculpe amiga, eu também já acreditei nisso um dia. Porque todo mundo fala e porque faz algum sentido (quando a gente quer que faça). Mas presta a atenção: você tem amigos homens. Du-vi-do que algum dia, o mais íntimo deles tenha desabafado com você e dito: conheci uma mulher demais mas não vou ficar mais com ela porque estou com medo. Medo. Ah, faça me o favor. Se o cara tem medo de mulher, tchau e gracias. Por que diabos você, uma mulher experiente, moderna e indepentende vai querer um cara desses? Se livra logo desse traste antes que ele “perca o medo”, vire seu namorado e um dia, quando você menos esperar, apareça com a unha pintada com Misturinha.

Eu tenho medo de homens que fazem as unhas.

4 de ago. de 2006

Afinal, o que e bacanerrimo?

Eu gosto da palavra bacanérrimo desde a primeira vez que ouvi. Desde então, uso mesmo. Sinceramente, este foi o único critério para escolher o nome do meu blog. Gosto de escrever mas tenho vergonha de mostrar o que escrevo. Então decidi ficar escondida atrás de uma URL simpática. E esperar que alguma coisa que eu escreva aqui vire spam e chegue um dia por e-mail, como se fosse um texto do Luiz Fernando Veríssimo. Ui, seria a glória.