2 de nov. de 2011

Síndrome da Balada Errada

Você acorda num daqueles dias cheios de inspiração. Quer fazer alguma coisa muito legal. Dá alguns telefonemas e já encontrou companhia na mesma vibe. Eba. Todo mundo dá sugestões e vocês decidem ir para uma balada nova, que você já ouviu falar que é demais. Fechado.
Você se arruma toda, sai de casa se sentindo uma coisa de louco e vai mesmo.
Deixa o carro com o manobrista na porta e, ao entrar, realiza que não existe uma mísera alma no recinto que tenha a ver com você. A hostess pergunta se você está na lista de aniversário, você pensa "graças a deus, não" mas responde só "não". Então descobre que todas as mesas estão reservadas para os aniversariantes do dia. E eles são muitos. Beleza, vamos para outro lugar? Lógico. Agora. Cancela o cartão de consumação aí, vou pedir para o manobrista pegar meu carro de volta. Isso leva menos de 5 minutos. Mas passam-se 40 (quarenta) e o seu carro não chega. O cara responsável diz que o manobrista é novo e está perdido pelo bairro, há 40 minutos, no meu carro. O segurança fala baixinho: os manobristas daqui são muito folgados. Eu, se fosse você, chamava a polícia. Eu, que não sou louca de discordar com um segurança-armário, cato o celular e ligo, pela primeira vez, para o 190. Tiras, seguinte: o manobrista do lugar hype sumiu com meu carro. Vamos mandar uma viatura já. Antes da viatura chegar, aparece o manobrista perdido e devolve o carro. Tudo certo, exceto pelo fato de que perdemos uma hora para conseguir sair de uma balada mico. Chegam os tiras para averiguações, você se sente uma imbecil por estar ocupando o tempo da polícia com algo que já está resolvido. Mas fazer o que? Nem o segurança do local levou fé.

Na mesma semana, você sai para jantar e tomar “unas copas” com as amigas. Tudo super bacana e, quando já está batendo aquele soninho, outro grupo de amigos chega, de outro bar, e se junta a nós. E em vez de ficar tudo mais divertido, eles ficam insinuando que a gente está encalhada por não estar paquerando ninguém e apenas conversar entre amigas. O outro começa a beber tanto que engata numas histórias de infância sem fim que vão te enchendo de sono e desespero. O que era para ser uma noite despretensiosamente divertida vira uma tortura. Você deixa um cheque em branco assinado e, literalmente, foge do local.

Eu não sei você mas, quando algo assim acontece, é difícil não pensar que deve ser um sinal, que você não deveria ter saído de casa, que a idade está mesmo pegando. Eu juro que tento e que sou persistente, mas não está sendo fácil.

26 de set. de 2011

Piada pronta

Acabo de voltar do Pantanal numa viagem delicinha com a família. A caminho do hotel fazenda você já começa a ver os bichos que povoam todos os programas Globo Repórter que já assistiu na vida. Está todo mundo lá mesmo: ararinha azul, tamanduá bandeira, tuiuiu, juma marruá. De repente, a motorista do jipe chama nossa atenção: estão vendo aquelas emas? Elas estão cheias de filhotinhos. Aliás, elas não. Quem cuida dos filhotes são os machos. As emas põem os ovos e cabe ao macho protegê-los, fazer eles chocarem, os filhotes nascerem e crescerem.
Mr. Emo é pai solteiro e responsável pelos filhotes até eles serem praticamente adultos. Detalhe: várias emas diferentes podem entregar seus ovos para um único macho.
Claro que não foi, mas bem que poderia ter sido deste fato, a origem da expressão “Ema, ema, ema, cada um com os seus problemas”.

11 de set. de 2011

Procura-se

Na Augusta, perto da Galeria Ouro Fino, tinha um mendigo que vivia debaixo do toldo de uma loja. Ele e seus 2 cachorros vira-lata. Todo mundo que frequenta a região já deve ter visto o dito cujo deitado no chão, usando a barriga de um dos cães como travesseiro e lendo jornal. Todas as pessoas que trabalham nas redondezas lembram dele, que vinha pedir esmola e comida, de loja em loja, diariamente.
Ele desapareceu. E parece que sumiu das ruas porque a gerente da loja em cujo toldo ele vivia se apaixonou por ele, tirou ele da rua, deu banhinho e tosa. Nele e nos 2 cães. Reza a lenda que ele foi visto, irreconhecível, contando para todo mundo que a vida das ruas acabou. Bem apessoado, até. E do jeito que lia jornal, não deve ser um cara mal informado.
Se alguém tiver alguma informação do paradeiro, por favor, entre em contato ou deixe um comentário. Não o paradeiro do mendigo, que esse eu acabei de te contar. Quero saber onde foi parar o critério da mulherada, isso sim. A coisa não pode estar tão árida a ponto de alguém precisar ver potencial e adotar mendigo, né? Os politicamente corretos que me perdoem, mas o critério foi pra casa do chapéu. Acho preocupante.

PS: Tks, Fá!

11 de ago. de 2011

What a hell?

“Vou dar uma de advogado do diabo mas, blablablablabla”. Você já ouviu isso, sua mãe já ouviu mas, de uns tempos para cá, estamos todos ouvindo mais. No trabalho, na hora de comprar uma TV nova ou tomar qualquer tipo de decisão.
Longe de mim achar que as pessoas devem agir sem pensar. Até onde eu sei, pensar é o que nos difere dos animais. Eu não tenho atitudes idênticas às de uma ratazana ou de uma lontra justamente porque eu penso e elas não. Logo, vou pensar sempre, muito, graças a deus. Todo mundo que eu admiro pensa muito.
Mas, de vez em quando, todo mundo também pode fazer coisas instintivamente, baseadas apenas no feeling. Coisas que depois a gente vê como resolve. E é nesse momento que os tais advogados do tranca-rua se manifestam e se reproduzem como coelhos ao redor da gente. Sabe aquela sobrancelhinha levantada, que vem junto com uma tonelada pontos de interrogação e suposições inúteis?
Tira este peso dos meus ombros, meu rei. Se eu decidi me jogar, tudo o que eu não preciso é de alguém para me desencorajar, para me dizer não ouse. É o famoso “Se não vai ajudar, não atrapalha”.
Quer ser advogado do diabo, manda seu currículo para o inferno.

(A frase é agressiva, eu sei. Mas não encontrei outra melhor para fechar e mandei ver. Ando assim, agora.)

15 de jul. de 2011

Desculpe a intromissão

A foto do Dalai é para tentar me redimir. Mas eu simplesmente adoro ouvir o papo dos outros no restaurante, na padaria, no parque, no elevador. Faço isso sempre que posso.
Ontem ouvi um bom. O assunto já estava rolando animadamente mas me fisgou na hora em que uma das duas amigas falou em alto em bom som.
- Eu fui puxando e tinha uns 20 centímetros. Bem duro.
A outra disse:
- Sei como é: duro e espetado.
Ela concordou:
- Isso mesmo.
Quando eu estava achando que a coisa ia ser brilhante, com um potencial tremendo, a moça esclareceu:
- Será que eu já devia começar a pintar meus cabelos brancos agora?
A amiga.
- Não, boba. Você tem pouquinho. Arranca.

Moral da história: antes dos cabelos brancos aparecerem a vida é bem mais divertida.

8 de jul. de 2011

Perdendo pontos

Digamos que a primeira impressão que você causou em alguém tenha sido boa e agora vem a sua chance de mostrar um pouco mais sobre esta fonte inesgotável de carisma e sex appeal que você é. Nesta hora, é bom ter em mente que algumas coisas contam pontos positivos, outras, pontos ladeira abaixo. Fonte: o pessoal que eu conheço.

Evite falar “Com certeza”. Se você não tiver nada para comentar sobre um assunto, não diga nada. Falar “com certeza” é um sintoma de que você não é capaz de improvisar, de evoluir o papo. Ou seja: de que você não tem certeza de nada.

Se você tiver mais de 8 anos de idade, pense bem na hora de escolher a cor do seu esmalte e, por misericórdia, não pinte desenhos nas suas unhas. Nenhum. Nem paisagem com coqueiro nem estrelinha. Vai por mim. Se tiver menos de 8 anos, não use esmalte.

Você fez uma tatuagem, sabe que não sai mais. Ok. O que talvez você esqueça é que as pessoas podem ver as suas tatuagens. E nem sempre elas vêm acompanhadas da explicação ou do contexto que fez tanto sentido para você. Coisas escritas pelo corpo podem ser bem estranhas. Nomes de pessoas geralmente são uma grande cagada. Nem se for o nome da pessoa mais importante da sua vida, tipo sua mãe. Homem com nome da mãe tatuado, por exemplo, é motivo para terapia freudiana.

Você sabe escrever? Se sabe, você só precisa se preocupar com o conteúdo do que vai postar no Facebook ou mandar por sms. Agora, se não tem a manha, melhor ligar ou falar pessoalmente, tá? Gente que escreve errado é broxante (ou brochante?).

Não faça barulho para tomar café, cerveja ou sopa. Bebe direitinho, como sua mãe ensinou que era bonito. Se ela não ensinou, aceite o toque.

O que você gosta de assistir na TV é problema seu. Mas não saia por aí incorporando os bordões da Rede Globo nas suas frases. Nem da novela, nem dos apresentadores, nem dos quadros do Zorra Total. Acho isso “mara”, “tô pagano”, gosto do Fulano “no pessoal e no profissional”. Você pode fazer melhor do que isso. Força.

Ah, importante: não use calça saruel.

26 de jun. de 2011

Caramba, ficou tudo tão diferente.

É aqui mesmo. Você não entrou no blog errado, não. Para mim também é estranho. Eu adorava o layout de bolinhas coloridas. Tinha muito amor por ele. Mas resolvi mudar a cara do meu blog especialmente para que a carinha dos seguidores também começasse a aparecer. Achava uma sacanagem ter um blog com leitores de longa data, com uma trabalheira dos diabos para virar seguidores. Agora ficou mais fácil. Continua com bolinhas, mas achei que ficou mais phyno. Já, já a gente se acostuma com o novo petit pois. Ou não. E tudo muda de novo.

PS: Amigos designers e diretores de arte, elogiem ou puxem minha orelha, por gentileza.

17 de jun. de 2011

Rímel, eu te amo.


O melhor amigo de uma mulher é o rímel. Sem sombra de dúvidas e sem trocadilho.
Da mesma forma que é muito bom viver cercado de amigos, adoro saber que tenho 2 ou 3 rímeis (existe plural de rímel?) com efeitos diferentes para garantir. Eu sou gente que não sai de casa sem rímel nem em caso de conjuntivite. Fora de questão.
Assim como amigo de verdade, existe rímel de verdade. Se você não sabia disso, provavelmente não tem um dos bons.
Amigo você escolhe. Rímel idem. Cada um que escolha o seu mas eu posso afirmar que nada se compara a um Dior. E se você usar aquela base branquinha antes, aí é que não tem para ninguém mesmo.
Amigos verdadeiros são aqueles que abrem seus olhos, jogam você para cima e fazem você engolir o choro. Sem querer menosprezar meus amigos. Longe disso. Mas quem faz estas 3 coisas melhor do que ninguém é um rímel. Acorde cedo, com aquela cara que não se mostra nem para parente e não tenha um rímel para abrir seu olho para ver o que acontece. Enquanto você está passando num olho, já dá para ver que o outro fica diminuído, cabisbaixo. Rímel dá um up no olho e na pessoa. Se eu uso, penso duas vezes antes de abrir o berreiro. Precisa ser uma razão muito forte para eu deixar o rímel escorrer.
Mas pode acontecer de você ficar triste e os amigos são aqueles que estão lá nas horas difíceis, são os que não desaparecem. Tem alguma coisa que apareça mais quando você está mal do que rímel? Amigos ficam do seu lado, o rímel está nos dois dois, escorrendo pelas suas bochechas, misturado e diluído nas suas lágrimas. Desculpe, mas não existe proximidade maior.

27 de mai. de 2011

Sai que eu não tô boa


Ando a stressadinha do trânsito.
E, quanto mais irritada fico, mais merda acontece. Por isso, quero dividir alguns aprendizados que podem ser úteis, caso você seja acometido do mesmo mal. Aí vai:
Por mais que tudo esteja parado, prefira as grandes avenidas. Uma hora elas andam e você evita descobrir na prática que, quanto mais secundária e estreita a rua, mais velhinhos dirigem por elas e saem, do nada, de dentro de garagens.
Nada contra a terceira idade. Mesmo. Estamos todos caminhando nesta direção. Só acho que eles deveriam aproveitar seus horários mais flexíveis para fazer as coisas deles depois que os infelizes que ainda precisam trabalhar já passaram. Depois das 10 da manhã, lá pelas 4 da tarde é ótimo. Podem passear a 15 por hora à vontade, que eu não me importo. Mas eles têm insônia, acordam com as galinhas e decidem sair bem na hora da minha reunião.
Outra coisa: velhinhos no volante nunca, mas nunca mesmo, se contentam em ocupar apenas uma pista. Eles preferem passar por cima da linha pontilhada no do meio da rua. Devem achar que serve para ajudar a andar em linha reta. A nós, que temos horário a cumprir, nos resta tentar ultrapassar pela esquerda primeiro, como manda o figurino, depois pela direita, dar aquela buzinadinha simpática que é só um toquinho, para não correr o risco de matar alguém do coração. Risco baixíssimo porque a audição desse pessoal já não é das melhores.
Se você puder escolher, não fique, ou evite ao máximo, parar atrás de carros dourados. Todo mundo que tem um carro dourado é velho. Caso contrário, teria escolhido outra cor para o possante. Dono de carro dourado dirige como velho mesmo que tenha 18 anos. Na verdade, eles queriam um carro bege (desconfio de gente que gosta de qualquer coisa bege) mas isso não existe mais. Então eles vão no dourado e ficam atravancando a nossa vida todos os dias. Motorista de carro dourado faz questão de manter uma distância de segurança maior do que a necessária. Eles ficam meio quarteirão (ou mais) atrás do carro da frente. Aquela distância suficiente para que você, que está atrás, não consiga atravessar aquele farol demorado, nem virar à direita quando precisa. Comece a prestar atrenção e me diga se a culpa do trânsito parado não é sempre do dono do carro dourado.
Tá. Era isso. Stress no trânsito não tem mesmo nenhuma justificativa decente.

25 de abr. de 2011

Amigas imaginárias


Quando eu era criança tive duas amigas imaginárias.
Uma delas era a Professora Cleuza, que me dava aulas num galpão nos fundos da minha casa. Eu tinha caderno, lápis, tudo real. Mas as aulas e a professora eram imaginárias. Acho que ela surgiu porque minha mãe é professora e porque ela e meus irmãos mais velhos iam para a escola e eu ficava em casa com a empregada a tarde inteira. Queria tanto ir com eles que minha imaginação resolveu me compensar assim.
Minha segunda e mais presente amiga imaginária surgiu logo depois que minha irmã leu o livro Alice no Reino do Espelho para mim. Foi muito alucinante para a minha pequena cabeça de pudim porque, no reino do espelho, tudo é invertido. Inclusive o nome das coisas e das pessoas. O nome da minha amiga era Aivalf porque minha irmã me disse que meu nome invertido era assim. Então eu ficava no meu quarto, falando com a Aivalf por horas e horas.
Depois eu cresci e tive mais três amigas imaginárias. Mas de outra categoria.
Eu imaginava que elas eram minhas amigas e um dia descobri que não eram.

15 de abr. de 2011

Amor, o próprio.


Homens, mulheres, animais e Lady Gaga. Todo mundo quer encontrar um amor ou manter o que já encontrou. Mas por alguma razão este querer, esta busca não é das coisas mais fáceis de realizar na vida.
Muitas pessoas incríveis estão totalmente desiludidas. Outras já entraram num nível de desespero e andam apelando para os cartazes das cartomantes colados nos postes ou, mais absurdo ainda, passando por cima dos seus princípios, se anulando, fazendo merda em nome de outra pessoa. E se esquecendo que, antes de mais nada, quem a gente tem que amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, é a gente mesmo.
Sem amor próprio a vida não anda, meu rei. E não tem nada de egoísmo nisso. Desde que você não ame só você mesmo e mais ninguém, se gostar é o que há. E digo mais: amor próprio é inspirador para mais amor.
Se alguém te ama é porque viu tuas qualidades, te admirou, te achou demais. Viu que você se ama. O contrário não é admirável, muito menos apaixonante para ninguém. Na minha opinião, gostar de alguém sem auto-estima é quase piedade. O limite é ali, ali.
Entender que eu sou o único responsável por todo o amor que tenho, terei e receberei na vida, que sou o principal agente da minha felicidade é quase como ter superpoderes. Ninguém no mundo pode fazer você esquecer disso. Não permita, em hipótese nenhuma.

É como diz o Mario Quintana, que eu nunca canso de citar por aqui: “Se eu amo meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?”

30 de mar. de 2011

Gaúcho sem rodeios


Anita pegou o gosto pelas viagens depois de ficar viúva.
Antes também era bom viajar mas agora ela podia escolher os lugares que mais gostava, na companhia das amigas. E o número de amigas sempre aumentava. Como a mala que sempre volta mais cheia do que foi.
Anita é gaúcha e tem amigas, viúvas e serelepes como ela, de São Paulo, Minas, Goiás, Bahia.
Estavam juntas em Buenos Aires, quando combinaram de visitar a fazenda de Anita no Rio Grande do Sul, antes de voltar para suas cidades. E foram mesmo.
A fazenda era pouco frequentada porque os filhos de Anita não moravam mais em Porto Alegre. Ela ia menos do que gostaria. E mostrar tudo para as amigas foi um grande prazer e uma grande farra.
Num domingo, acordaram cedo, tomaram um café da manhã reforçado e Anita pediu a Floriano – o peão – que preparasse os cavalos para elas darem um passeio.
Em menos de meia hora, os cavalos estavam batendo os cascos campo afora, com Anita, as amigas e Floriano, que decidiu acompanhá-las. Andaram por algum tempo, ficaram encantadas com a paisagem do pampa gaúcho. Riam alto, lembravam passagens das viagens. Floriano ficou alguns metros atrás para que elas pudessem conversar à vontade. Uma das amigas de Anita também foi ficando para trás e, quando o grupo percebeu, Floriano e a amiga tinham desaparecido.
Elas já ficaram imaginando coisas. Afinal, Floriano era um peão. E peão é um fetiche.

Mais tarde, quando todas já estavam de volta, a amiga desgarrada aparece com um sorriso incomum. As outras perguntaram:
- O que aconteceu? Onde vocês se meteram?
Ela respondeu:
- O Floriano me fez um sinal e entrou na mata. Eu fui atrás. Andamos até uma clareira, ele desceu do cavalo, colocou uma pele de ovelha no chão e me disse, com aquele sotaque gaúcho: “Apeia, te pela e te deita”.
As amigas perguntaram:
- E o que você fez?
Ela respondeu, imitando o sotaque:
- Apeei, me pelei e me deitei.


Mais uma história real, com nomes fictícios.
*Apeia deveria ser uma conjugação do verbo apear. O certo seria dizer apea. Mas foi assim, com i no meio, que o peão falou e é assim que é mais legal de imaginar a cena.

26 de mar. de 2011

Um cocozinho. De pato.


Foi o que eu achei do filme Cisne Negro. E a culpa é de quem fica se desmanchando em elogios e elevando a expectativa da gente a proporções que o filme não tem como bancar. Não vou ficar achando que tem alguma coisa errada comigo por não gostar.
Sensação de já vi isso antes. Quando começou, já sabia o que ia acontecer no final. O lado negro da mina é coisa de adolescente. E, para piorar, eu não sou homem pra ficar pagando pau para a Nat, que é linda (muito). Só porque mistura terror (terror?) com balé eu tenho que achar inovador? Achei bonito como um patinho amarelo. De 0 a 100, nota 22 para ele.

7 de mar. de 2011

Ah, o Carnaval


Ouvindo é mais engraçado do que lendo.
Carnaval no Rio. Não este ano, lógico, porque se eu estivesse lá agora, não estaria escrevendo. Eu, uma amiga e mais alguém que eu simplesmente esqueci quem é, estávamos sentadas numa cadeirinha em Ipanema enquanto o bloco Simpatia é Quase Amor passava.
Amo Carnaval no Rio, mas a falta de infra e de educação faz com que as pessoas façam xixi em qualquer (eu disse qualquer) lugar e isso é muito triste de observar. A gente comentava justamente sobre isso quando escutamos uma voz de mulher, mas uma voz de velha, castigada pelo cigarro e pela birita, uma coisa meio Nair Bello, meio Aracy de Almeida. A tal voz, que eu imitaria se estivesse contando para você, disse:
- Será que eu sou mulher para encarar esse mar?
Eu me virei para ver quem era e me deparo com uma menina de no máximo 10 anos (chutaria uns 8), magrinha, franzina, mas dona daquele vozeirão maltratado pela vida. Ela continuou falando:
- To aperrrtada pra fazer xixi, ae... Mas esse marrr deve tá um gelo.
Lógico que ela era mulher para isso e encarou. Entrou no mar, esvaziou a bexiga e ainda fez muito. Porque os homens simplesmente colocavam o pinto para fora e faziam tudo quase na cara da gente.
Então a menina sai do mar e vem na nossa direção. Por alguma razão ela olha para mim e pergunta com aquela voz de deixar Maria Zilda no chinelo:
- Onde será que eu posso fazer cocô, ae?
Eu respondi:
- Olha, de preferência num lugar bem longe da gente.
E ela saiu andando. Com convicção. E eu acompanhando com os olhos, sem acreditar: a mina vai fazer cocô na areia. Nunca mais tiro as minhas Havaianas em Ipanema. Não estou acreditando. Ela está cavocando um buraquinho. Ela ficou de cócoras, puxou o short para o lado. A mina vai mandar um number two no meio de todo mundo. G-zuis!
Então ela começa a voltar na nossa direção. E eu pensando: o que vai ser agora? O que mais essa pequena velha quer de mim? E ela queria mesmo. Chegou bem perto da gente e tascou a cereja do bolo:
- Pô, tô tentando fazer cocô mas com vocês olhando eu não consigo, ae!!
Juro que aconteceu.

17 de fev. de 2011

Pri e Poli


Eu não sou uma pessoa muito religiosa. Mas desconfio que o Barba, decidiu que o Carnaval seria em fevereiro já sabendo que a barra ia pesar horrores na Páscoa, com direito a crucificação, ressurreição, enfim, você sabe. Ele deve ter pensado:
“deixa o povo se esbaldar em fevereiro, ter bastante alegria, ficar com a alma bem leve porque, 40 dias depois, a jiripoca vai piar. E para que essa alegria de fevereiro se repita sempre, vamos criar os aquarianos. Umas pessoinhas mais coloridas que as outras, com menos ranso, com rostos mais ternos que sempre vão inspirar vontade de abraçar e ter por perto. Vamos fazer essas luzinhas nascerem numa época só de alegria, que elas vão levar pela vida toda e por onde passarem. E também para que, quando a barra pesar, elas possam ser um alento para quem ficar mais baqueado com os dias ruins”.
Não tenho a menor idéia se ele pensou assim, mas ontem eu estava pensando. É difícil explicar e justificar o amor e o carinho que eu sinto pela Pri e pela Poli, duas amigas que não se conhecem, ambas aquarianas, nascidas nos dias 17 e 18 de fevereiro. Gosto tanto e de um jeito tão único dessas duas que, quando vejo, já estou teorizando a respeito. E como eu ando sendo muito relapsa com as duas, decidi escrever alguma coisa para que elas nunca tenham dúvidas do quanto são importantes e especiais para mim.
Feliz aniversário, queridas amigas. Vocês são fodalhaças.

4 de fev. de 2011

Do contra


Fazer as coisas de um jeito diferente é da minha natureza.
Não escolhi isso. Simplesmente é o que temos por aqui.
Não decidi ter a profissão que tenho porque quis ou porque todo mundo queria. Mas porque é a única coisa que eu sei. Sorte minha que posso ser paga para fazer as coisas de outro jeito. Só sorte.
Todo mundo sempre achou que é porque eu sou do contra. Mas não é nada disso (ou não é só isso). Sempre foi assim e eu sei que vai continuar sendo.
Por isso não me peça para ter o corte de cabelo certo, para usar a roupa que estão usando, escutar aquela banda que virou hit, ter uma vida convencional. Não me peça para ter o comportamento óbvio. Porque eu não sei, não consigo, não vai rolar, não vai ficar bom, eu não vou gostar.
Nem você.

17 de jan. de 2011

Quem amou bate aqui


Valeu cada centavo. E não foram poucos. Não vou nem entrar no mérito do evento com produção mixuruca e telões bagaceiros para ingressos tão caros. Vou entrar no mérito da Amy. E ela foi foda. Exatamente do jeito que eu imaginava que seria. Pouco à vontade com gente demais, insegura e procurando a cumplicidade da banda ao final de cada música. Com os olhos cheios de lágrimas em alguns momentos. E eu em quase todos.
Tinha horas em que eu me perguntava: isso é playback? Lógico que não era. Toda aquela voz sai mesmo daquela caixa torácica minúscula, de uma criaturinha frágil e, agora, exageradamente peituda. Exagerada, não. Intensa é a palavra pra falar dela. O que fazia parecer playback é um show daquele tipo acontecer no lugar errado. Amy merecia um ambiente menor, com um som à altura da ótima banda que ela trouxe e onde ela pudesse se sentir mais confortável do que no Anhembi bombando. E, de preferência, com gente mais bacana assistindo.
Não páro de ler e ouvir gente falando mal do show. E só posso lamentar que estas pessoas não tenham entendido nada. Ela é antisocial, não gosta de multidão nem fica bajulando platéia. Pelo contrário: se um fã chegar querendo abraçar e ficar perto demais ela retribui com um sonoro soco na cara. O que as pessoas queriam num show da Amy? Um microfoninho apontado pra platéia e um “agora é com vocês” em português decorado? Erraram de show, meus amores. E agora vão ficar descendo a lenha numa das poucas pessoas autênticas que a gente teve a oportunidade de ver ao vivo.
Eu, que só gosto de música de gente morta ou que já está no bico do corvo, fico realmente animada por ser contemporânea de alguém como ela. Que erra, se expõe, se droga, cai, levanta, aumenta o peito, perde o dente. E canta muito. Ela é um pontinho topetudo no meio de um mundo de celebridades politicamente corretas, que se casam virgens, são vegetarianas e contam tudo o que fazem no twitter.
Mil vezes ir num show de alguém que você nem sabe se vai ter condições de chegar, a ouvir as súplicas de um cantor de rock’n roll para ajudar os golfinhos e as baleias. Se eu quisesse ouvir falar de golfinho, ia numa palestra do projeto Tamar, meu amigo. Canta aí e não enche o saco.
Mas canta com a alma. Como a Amy.

3 de jan. de 2011

Feliz Ano Novo


Adoro a sensação de renovação do Ano Novo. O ritual que diz, mesmo que inconscientemente, que as coisas podem mudar, melhorar e começar de novo de outro jeito.
O que eu não curto é o desespero do Reveillon. Já reparou?
Tudo começa com o fato de que você precisa estar em algum lugar especial, obrigatoriamente com praia e amigos de branco, felizes e radiantes. Sim, gente que tem problemas e fica borocoxô não pode estar na nossa turma. Esta é a parte do desespero que dura mais, porque tem neguinho noiado em pleno julho, agosto (já falei sobre isso aqui e simplesmente não consigo entender). Aí vem todo o resto.
Vai viajar? Prepare-se para pegar o maior engarrafamento da sua vida. Vai de avião? Ah, coitada. Vai ter greve, você corre o risco de passar a virada no aeroporto, brindando com o cara do check-in.
Então você respira fundo, faz sua malinha, vai e dá tudo certo. Não para todo mundo, eu sei, mas tudo o que dá errado também é culpa do desespero.
Chega a grande noite que você está planejando e já pagou há 6 meses. Que roupa eu vou usar, que cor vai ser a calcinha, o que eu tenho que fazer na hora da virada, qual é o orixá que rege o ano, tenho que comemorar duas vezes, no horário de verão e no antigo? Esse ano que passou foi uma merda (será?) e o próximo tem que ser maravilhoso. Todos os meus problemas precisam se resolver, já está resolvido. Vou para a academia, mas enquanto não chega a meia-noite, enche a minha taça e me dá mais um canapé desse, por favor.
Aí você precisa voltar. Chega no aeroporto e a moça avisa que o avião está em solo e dentro de 15 minutos vai começar o embarque. Então as pessoas correm e se acotovelam para ficar 15 minutos em pé, numa fila, para embarcar primeiro. Não importa que meu assento tem número marcado. Eu quero entrar primeiro. E quando o avião aterrissar e avisarem para todos permanecerem sentados, com o cinto de segurança e o celular desligado, eu também não vou deixar barato. Vou tirar o cinto primeiro, catar minhas bagagens nem que elas batam na cabeça da pessoa sentada na minha frente. Vou ficar em pé, com o pescoço torto, por mais 15 minutos ou pelo tempo que for necessário, mas eu quero sair primeiro do avião. Essa senhora que nem pense em se meter na minha frente. E tem mais: quero ver quem vai me impedir de ligar o celular aqui e agora. Liguei. Ouviu meu ringtone? Eu sei que falaram que não podia mas eu sou assim e ligo mesmo.
Agora eu quero a minha mala. Eu sei que ainda não tem nenhuma na esteira mas eu vou ficar bem na frente, esperando a minha sair. Porque eu quero pegar primeiro e sair logo e pegar o táxi antes de todo mundo, que eu não sou palhaço.

Só nos resta desejar que neste Ano Novo, as coisas mudem, melhorem e comecem de outro jeito. Tenha um lindo 2011.