6 de jun. de 2009

Pára já com esse papinho


Imagine a seguinte situação: eu tenho uma amiga de longa data que escolheu ter uma vida completamente diferente da minha. Ela casou cedo e teve filhos. Profissão nunca foi importante na vida dela nem viajar é o que ela mais ama fazer. Ok?
Então um dia eu encontro essa amiga e resolvo dizer que, por ter feito as escolhas que ela fez, ela nem sequer conhece o melhor da vida. Deixo muito claro que não respeito a decisão dela, que tenho pena por ela nunca ter ido à Europa nem para Cuba. Digo que não posso nem começar um assunto com uma pessoa que só sabe o que é o Louvre graças a um filme medíocre como o Código da Vinci. Que ela nunca vai entender o quanto eu sou feliz e realizada por ter uma profissão, por ser respeitada e por já ter muito mais experiência de vida do que ela. Sugiro que, quem sabe, se um dia ela mudar de idéia e decidir correr atrás do prejuízo, ela experimente a sensação de ser livre e independente. Mas, se ela ainda tem alguma esperança de ser feliz como eu, que faça isso logo porque o tempo está passando e daqui a pouco vai ser tarde demais.
Imaginou? Isso não seria um absurdo, uma estupidez, uma falta total de respeito por essa amiga?
Então por que é que o contrário vale? Por que é que algumas mulheres, por serem mães, acham que podem chegar para pessoas que escolheram deixar a maternidade para lá e dizer com aquela cara de piedade: ser mãe é a maior felicidade do mundo. Pena que você não sabe o que é. Ou pior: você age assim / diz isso porque não sabe o que é ser mãe. Só depois que a gente é mãe a vida faz sentido. E por aí vai.
Isso tem acontecido comigo e com um monte de gente que eu conheço. E me tira do sério. Vão todas catar coquinho.
Não sei, mas imagino que deve ser mesmo foda ser mãe. Quando eu quiser, pode ter certeza que vou experimentar e me esbaldar com esta experiência incrível. Mas nunca vou chegar com este texto bizarro para mulher nenhuma, amiga nenhuma. Porque as pessoas são livres para ser o quiserem. E porque, para a nossa sorte, não existe apenas uma forma de felicidade na vida. Eu tenho tantas amigas que são mães, que eu admiro para caralho, que estão maravilhosamente felizes e que nunca vieram com esse discursinho. O que acontece com o resto do povo?
Ser mãe pode até ser padecer no paraíso, juro que não duvido. Mas, pelo menos por enquanto, quero mais é brilhar no paraíso. Com todo o respeito por quem está padecendo.

23 comentários:

Anônimo disse...

Putz! Queria poder aplaudir. De pé.
Beijos da Dani ;)

Gi disse...

como se não bastasse a pressão que a gente sofre, ainda tem isso. rsrsrsrsrs
ainda bem que vc tocou neste assunto. vou lembrar na proxima vez que alguem me falar algo parecido. mas não liga, não. a gente supera.

Maíra disse...

Querida, não esquenta, eu sou mãe, mas ainda não desisti de ter uma profissão e já realizei o sonho de ir a Europa... Na real dá pra fazer tudo...é só querer... esse papo é coisa de mulher frustrada...;)
beijos

Júlia Zuza disse...

Que texto ótimo! Na medida certa, sem lero lero nem chorumela.
Adorei!

Márcia Stival - Assessora de Imprensa disse...

Boa!

Kuka disse...

Tb prefiro uma mochila nas costas a um bacuri no colo.
(tem um livro de uma psicanalista francesa chamado "Sem filhos - 40 motivos para não tê-los". Dizem que a mulher quase foi linchada por lá)

Eduardo Di Lascio disse...

O problema com a maternidade é que dá para se fazer test drive e depois dizer "pensando bem, não é pra mim, tó aqui de volta".

Essa sua amiga é uma puta duma idiota por te fazer passar por isso.

Não deixe que esse veneno de sapo afete seu humor.

Vc é luz, raio, estrela e luar.

Se cuida

Renatinha disse...

Difícil saber qual escolha nos faria mais feliz. Escolhi ser casada, sem filhos com uma carreira bacana pela frente e de repente, tenho 34, meu marido se mudou para Porto de Galinhas, tem uma pousada e de certa forma, me "fazendo" abrir mão da minha vida profissional por ele... O que escolher?
Ainda não decidi 100% mas pode me ajudar com as malas? rs
Felicidade é estar perto de quem nos ama e amamos. Felicidade é ver que tudo tem que ter uma balança, 5 cachorros, 1 gato, 2 casa, 3000km de distância e saber que mesmo na bagunça da vida, somos felizes com escolhas tortas...
Ufa, adorei seu post, me lembrou de um que me rebelei um dia... Se quiser ler...

beijos
Re
http://passeidostrinta.blogspot.com/2008/07/no-justo-eu-sei.html

Anônimo disse...

É isso aí. É hora de brilahr no paraíso, na ana rosa, na bresser e onde mais der na sua telha. Você é livre! E haja coquinho pros outros catarem.

Rubinho

marcelo sato disse...

Relaxa, Flavita. Vamos pro bar, a gente que não tem filho pode. Bjs

Bianca Agnelli disse...

O Millôr Fernandes falou (mais ou menos) assim: "prefiro os descrentes aos crentes. Pelo menos eles não saem por aí querendo convencer os outros a não acreditar".

Acho que com esse tipo de mãe rola isso: ter filho é uma coisa tão bacana que querem que as sem-filho acreditem nelas e saiam correndo pra ter um filho naquele minuto. E assim não percebem que estão desrespeitando as escolhas dos outros e se metendo em questões que são estritamente pessoais.

É por isso que a melhor resposta pra "quando você vai ter filho?" é, ainda que rude, o bom e velho "não é da sua conta" (bão, não foi você que começou a grosseria).

Matou a pau, Flavinha! Beijos, Bianca (da Ogilvy, lembra?).

man in the box disse...

ando tentando engravidar em vão

Unknown disse...

A questão aqui é a falta de respeito mesmo. Esse lance politicamente correto de ser.
Uma amiga minha, super breguinha, vive tirando uma onda das minhas roupas, numas de que sou "fashion". Se eu fizesse o mesmo com ela, seria inaceitável, certo? Afinal, o convencional-breguinha pode, e não agride!
Sobre filhos, sou casada há 8 anos e até agora NADICA. Tenho algumas respostinhas boas, mas ainda não tive culhões para usá-las.
"E aí, vai ter filho?" 1) Não, eu gosto de engolir TUDO. 2) Não, eu só gosto por trás, na frente só quando eu bebo. 3) Não, estamos em crise e eu acho que gosto mesmo é de mulher, de modo que não é um bom momento. E olha que eu adoro a idéia de ser mãe, o que eu não gosto é de gente simplória e inconveniente.
Um beijo, nega, adoro seu blog!

Anônimo disse...

as respostas da Juliana são foda.
hahaha

Anônima disse...

Genial! Outro dia participei de uma seleção em que o clichê dominante foi "meu melhor projeto é meu filho/minha família" ou "mudei para ficar mais perto dos meus filhos". Eu, que não tenho filho, pensei: tô lascada!

Nesse mundinho latino, solteiras sem filhos, socialmente, estão abaixo das que têm filhos.
Não importa se essas mulheres que optaram por não "padecer no paraíso" são bem sucedidas e felizes com a própria escolha.

Olhe à sua volta. Cansei de ver as Mães e as casadas terem prioridade nas escalas de férias no verão.
Ridículo, pra dizer o mínimo.
Flávia, valeu o post! Vc foi até soft demais.

Flavia Coradini disse...

Confesso. O texto inicial foi mais fuerte. Mas eu resolvi editar justamente para não criar polêmica. Não era essa a intenção. Uma vez postei um texto aqui dizendo que tenho medo de crianças que se vestem e falam como adultos e fui massacrada no blog de uma mãe. A gente fica sabendo dessas coisas pelo Google. Mas os argumentos foram esses: "claro que uma pessoa que escreve isso nunca foi mãe". Nem tomei conhecimento. Meu filho nunca vai parecer um anão de Ray Ban. E ponto. Se quiserem criticar, fiquem à vontade. Mas eu tbem posso. E pelo jeito não estou sozinha.
Beijos pra td mundo que comentou.

Mãe disse...

Pobre de quem acha que a vida só faz sentido depois que a gente tem filhos. Eu tive filhos e a vida continua não fazendo sentido. E é porque não faz sentido que é maravilhosa. Não entenderam nada, né? Tenham filhos e vão continuar não entendendo.

Anônimo disse...

essa mãe tava bêbada.

Andreia disse...

O radicalismo sempre é burro.

Anônimo disse...

Olha o levante da mulherada. Isso aí.

X disse...

Aff. A DO REI!

Vou até enviar esse texto pra uma amiga.. que alívio!

Cláudia disse...

Abri mão de trabalhar enquanto minha filha era pequena e tive de estar muito segura da minha decisão, porque o povo adora apontar o dedo para tudo, como se eu passasse o dia todo fazendo lhufas. Mas se você trabalha, você tá largando o coitadinho, se você resolve não ter filhos é porque não deseja uma relação "completa" com alguém, e se você resolve que vai ter quatro é uma desmiolada de colocar quatro crianças nesse mundo doido.
Se resolve ter só um, como é meu caso, escuta que a criança vai ser uma egoísta, mimada bla bla bla.
É como quem cuida de cachorros e alguém vem logo botar o dedão e perguntar porque não vai cuidar de crianças. Agora pergunta se esse neguinho cuida de alguma coisa que não seja a vida alheia?
O ponto não é ser ou não ser mãe. É o dedo em riste apontado para todo lado, de gente que não tem um tanque de roupa pra lavar.
INTOLERÂNCIA.
bj

Márcia Stival - Assessora de Imprensa disse...

Voltei para dizer que não tenho vontade de ter filhos, tenho 38 anos sou casada há 9 e lá atrás talvez quando tinha uns 21 anos senti um ímpeto que durou um mês ou menos, que felizmente passou.

Não sei se vou me arrepender ou não na minha velhice prefiro pensar que seria a titia perua, cheia de histórias que contarei ou não para os meus sobrinhos.

Acho o cúmulo pessoas que não estão preparadas para ter filhos colocar no mundo e NÃO CUIDAR, passar a bola para a mãe, sogra, irmãos, isso é foda pois cola e a pessoa fica de boa "dividindo a mortadela" com quem não tem nada a ver com a história. Pior ainda mulheres que forçam a barra para ter o filho na intenção de segurar uma relação (isso ainda existe por incrível que pareça) e depois devolvem para o mundo quando tomam um pé na bunda do marido a criança fica com a vó.

Tá bom eu também sou egoísta com o meu tempo e com meu dim dim sim,e daí? bjos a todos